23 de fev. de 2010
DIÁLOGO ENTRE UM HOMEM DA ROÇA E UM CANDIDATO.
JOSE AMAURI CLEMENTE
Todos os direitos reservados
2004
Peça teatral
Candidato - Boa tarde meu senhor
Com licença, posso entrar?
Matuto - Fique a vontade dotor!
Se quiser pode sentar,
O que o traz a minha sala
Bote aí a sua mala
Sente, vamo cunvessar.
- É uma honra dotor
Lhe ver na minha chopana
Acho que vi o sinhô
Ta com umas quatro sumana
Quando me viu deu a mão
È muita satisfação
Vê-lo na minha cabana
Candidato
-Pois é meu senhor amigo
Estou aqui novamente
E vim conversar contigo
E fico muito contente
Do senhor me receber
Ouvir o que tenho a dizer
Muito educadamente
- Como o senhor deve saber
A eleição está perto
Vim aqui lhe oferecer
Ajuda de peito aberto
Pois eu sou um candidato
A mais um novo mandato
E sei que seu voto é certo.
- Durante esse meu mandato
Muita gente eu ajudei
Desde o valente ao pacato
A todos apreciei
Ajudei muitos carentes
Dei remédios aos doentes
Fiz a minha parte bem sei.
- Por isso estou confiante
O senhor é sabedor
Quero seguir adiante
Ajudando o eleitor
E quem confiar em mim
Vai ver minha luta sim!
Em favor do agricultor
- Tenho plano em minha mente
Pra esse novo mandato
Pra ajudar minha gente
Sempre foi esse o meu ato
É gente como o senhor
Que um fiel eleitor
Que me faz ser candidato
- Tenho projeto e plano
Pra fazer esta estrada
Daqui pro final do ano
Falta pouco ou quase nada
Vou lhe trazer energia
Geladeira e água fria
E também água encanada
- A madeira dessa casa
Ta na hora de trocar
Aquele fogão de brasa
Não serve pra cozinhar
Vou dar-lhe fogão a gás
E lhe farei muito mais
Se o senhor em mim votar
Matuto
- Sua cunvessa é bunita
Difícil inté de intender
O sinhô é mermo artista
E Sabe cuma fazer
Agora cum paciênça
Se o sinhô me dé licença
Eu quero lhe responder
- Seu dotor me oiça bem
O que tenho pra lhe dizer
Eu sei que não sou ninguém
Pra falar pra vosmicê
Mais hoje criei corage
Num vô lhe dá homenage
Quero só lhe esclarecê.
- Esclarecer uns assunto
E lhe preguntar tomem
Agora que tamo junto
Só nós dois e mais ninguém
Me diga com realeza
Por que com tanta riqueza
Tu só ajuda quem já tem
- Ta cum quase quato ano
Que o sinhô veio aqui
Se num me foge dos prano
Nesse mermo canto aí
O sinhô me premeteu
Até hoje espero eu
Pra o sinhô me acudi.
- Lembro tudo direitinho
A mulé muito doente
Lhe serviu um cafezinho
O sinhô muito contente
Premeteu me ajudar
Bastava só eu votar
Pra no esquecer dagente.
- Eu votei no seu partido
E no sinhô cum certeza
Meu voto num foi vendido
Digo isso cum firmeza
Eu votei pruque pensava
Que quando o sinhô falava
Tinha voz de realeza.
- Minha mulé já morreu
Por farta de um dotor
Pois ninguém me socorreu
Eu procurei o sinhô
Mais lá do seu gabinete
Nem me mandou um lembrete
Pra ajudar quem votô
- Por eu sê anafabeto
Fiquei pelo derradero
Meu fio deixou meu teto
É servente de pedreiro
Trabaia pra um dotor
Assim como é o sinhô
E ganha pouco dinheiro
- Pruque que nas inleição
Agente tem tanto valor
Nos dar até refeição
Inchada pro agricutor
E depois que tudo passa
Nem um pacote de massa
Agente ganha do sinhô.
- Pode parecer ingano
Mas o sinhô ganha munto
Já faz parte do meu prano
Em lhe tratar desse assunto
Hoje na oportunidade
Pra saber dessa verdade
Por isso que eu lhe pregunto
- Pro que qui o sinhô num acode
O pobre necessitado
Miserave que não pode
Nem arrumar um bucado
De cumida pros seus fio
Que vive num disafio
E sem dormir sossegado.
- Pruque é que quando passa
As mardita inleição
Rí da gente e acha graça
Passa nem dá cum a mão
Dexa nós no desingando
Só depois de quato ano
Vem nos dá satisfação?
- Sabe mermo seu dotor
Fico inté inveigonhado
Pois se eu fosse o sinhô
Ficava mermo calado
E não prometia nada
Pra num armar mais cilada
Pro pobre necessitado
- Achei muito interessante
Quando o sinhô chegou
Vistido muito elegante
Me chamou de “meu senhor”
Eu num sô é nada disso
Sô pobre sem compromisso
Sinhô mermo, é o sinhô.
- Lhe procurei muitos dia
O sinhô num me atendeu
Talvez pruque num podia
Ou então se esqueceu
Do que disse aí sentado
Ante de ser deputado
Tumando café mais eu
-Se quizer café de novo
Eu faço, trago e lhe dô
È assim que trato o povo
Sou apena um eleitor
Se quizer cumida eu boto
Mais num me peça seu voto
Que eu num voto num sinhô
Candidato já nervoso.
- Não senhor muito obrigado
Tenho pressa de sair
Vou visitar outros lares
Antes mesmo de partir
Tenho outros eleitores
Tenho que dar-lhe os valores
Depois apareço aqui.
Matuto
- Seu dotor pro derradeiro
Deixe eu mostrar seu fracasso
Sei que tem muito dinheiro
Pode até junta de masso
Sou pobre vou lhe dizer
Aquilo que eu prometer
Pode acreditar que eu faço.
- Vá im paz fique cum Deus
Pegue aqui na minha mão
Dê lembrança lá aos seus
Candidato as eleição
Sô um caboco sem nada
Más, qué subir procure escada
Mas nas minhas costas não.
Acolher ao que precisa
Mesmo com dificuldade
Amar quem mesmo desliza
Usar de fidelidade
Resolver por compaixão
Ir com Deus no coração
Esse é homem de verdade.
AUTOR: JOSÉ AMAURI CLEMENTE.
JUNHO DE 2004
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