24 de abr. de 2014

MANÉ, MEU IRMÃO


Há coisas que acontecem
Que muito engraçadas são
Que nos fazem gargalhar
Outras causam confusão
Vou deixar aqui contado
Um caso bem engraçado
Que se deu com meu irmão

O nome dele é mané
É um sujeito pacato
Mais é meio desligado
Desses matuto do mato
Que sempre que negocia
Leva balde de água fria
Compra a pena e paga o pato

Tinha muitas qualidades
E assim ele cresceu
Sempre honesto e cumpridor
De tudo que Deus lhe deu
Nunca vi ele mentindo
Sempre vi ele assumindo
Aquilo que prometeu

Quando ele marcava a hora
Nunca chegava atrasado
Se fizesse algum negocio
Mesmo que fosse enganado
Mesmo levando canudo
Cumpria direito tudo
Que havia combinado

No meu caso era o contrário
Sempre fui meio enrolão
As vezes tudo cumpria
Mais em outros casos não
Fui cair numa besteira
Fui enganado na feira
Por não prestar atenção

Num mês de janeiro foi
Que aconteceu tudo isso
Fui comprar uma roupa nova
Pra missa do “pade ciço”
Que era seis “mês” pra frente
E metido a inteligente
Fui vítima do tal feitiço

Pra fazer parte da roupa
Um sapato então comprei
Desse dos bico de ferro
Na loja um pé só provei
Confiei em quem vendeu
Ele um canudo me deu
E eu nem observei

Dentro da caixa o sapato
Calça e camisa levei
Joguei tudo em um saco
Da loja me retirei
Sai feliz com certeza
Mas ia ter a surpresa
E eu nem observei

De tanto cuidado ter
No sapato que comprei
Não abri a caixa antes
Dentro da mala guardei
Pois só queria mostrar
No dia que fosse usar
Com alegria esperei

Tal foi a minha surpresa
Quando fui me arrumar
Para sair para a missa
“Tava”  pensando em rezar
Quase me dar um “toró”
Os dois sapatos de um pé só
E eu não podia trocar

Quase não acreditei
Naquela falta de sorte
Tão magoado fiquei
Que pensei até na morte
Mas mesmo sendo enganado
Tive que ser conformado
Aí tive que ser forte

Guardei o sapato novo
Usei um velho que tinha
Mesmo com a roupa nova
A alegria não vinha
Fui pra missa e não rezei
Em muita coisa pensei
Pela triste sorte minha

Enquanto o padre falava
Eu pensava o que fazer
Pra me livrar do sapato
E o prejuízo reter
Foi aí que me lembrei
E no meu irmão pensei
De a ele oferecer

Durante toda  “rezera”
No meu irmão eu pensava
Procurando direitinho
Soube logo onde ele estava
Escondendo a traição
Conversei com meu irmão
Pra ver se negociava

Ofereci o sapato
Ele ficou animado
Eu disse que não usei
Por que ficou apertado
Ele disse: Dá pro meu pé?
Eu disse: Fica filé
Ele ficou animado

Por quanto tu vende ele?
Eu disse dou oitenta
Mal sabia o coitadinho
Que eu tinha pago quarenta
E se tu vê que não quer
Eu vendo ao “fio” de Ester
Que me ofereceu noventa

Não senhor, eu fico sim
Afinal “tô” precisando
O meu tá ficando velho
Já tá quase se rasgando
Não vi ele com clareza
Mas tenho toda certeza
Que tu não tá me enganando

Foi botando a mão no bolso
E me deu logo os oitenta
Eu fiquei tão animado
Que suei o pau da venta
E disse com os meu botão:
Coitado do meu irmão
Tudo que faz se arrebenta


Saí em toda carreira
Um pouco desconfiado
Ele disse: Depois eu pego
Deixe na caixa guardado
Que depois eu vou pegar
Pra semana eu vou usar
Na festa de batizado

Não sei qual a reação
Quando ele viu o sapato
Mas nunca me reclamou
Por ser honesto e pacato
Não sei se foi por bondade
Ou pra devolver a maldade
Desse grandioso fato

Toda vez que ele calçava
Eu ficava desconfiado
Os sapatos de um só pé
Apontava para os “lado”
Ele calado ficava
Mesmo sabendo que estava
Calçando o sapato errado

Uma coisa ele provou
Que é um homem de bem
Não engana nem reclama
E cuida bem do que ele tem
Eu vou dizer pra você
Um dia eu queria ser
Com ele é também

Meu irmão é muito honesto
Isso ele pode provar
Não desmanchou o negocio
Isso eu posso confirmar
E pra confirmar o fato
Ele usou o sapato
Todinho, até se acabar.

José Amauri Clemente

22 de abr. de 2014

O "LADO BOM" DA COPA DO MUNDO




O “LADO BOM” DA COPA DO MUNDO
José Amauri Clemente

A TAL COPA DO MUNDO NO BRASIL
AS VANTAGENS QUE TEMOS NINGUÉM VIU
A REFORMA DAS ESCOLAS SUMIU
O DINHEIRO PARA ESTÁDIOS SURGIU
E TANTA COISA FALTANDO NO PAÍS
AINDA QUEREM QUE ME SINTA FELIZ
NUMA NAÇÃO QUE SE JULGA VARONIL
ESSA TAL INFELIZ COPA DO MUNDO
CADA VEZ LEVA O PAÍS MAIS FUNDO
JÁ ESTAMOS EM BURACO TÃO PROFUNDO
E NA RUA NÃO FALTA MORIBUNDO
QUANDO TENTO SAIR MAIS EU ME AFUNDO
NA AREIA MOLHADA E MOVEDIÇA
NUM PAÍS QUE INCENTIVA A PREGUIÇA
SEMPRE LUTA E NUNCA SAI DO SEGUNDO

FALTA GRANA PRA INVESTIR PRIMEIRO
NA SAÚDE DE CADA CAVALHEIRO
MAS NÃO FALTA CONTA NO ESTRANGEIRO
ENQUANTO AQUI EU SOU PRISIONEIRO
TENHO MEDO DE JANEIRO A JANEIRO
DO QUE TENHO AINDA SER ROUBADO
QUANDO ANDO PENSO EM SAIR ASSALTADO
ASSIM ANDA A NAÇÃO DE BRASILEIRO

SE ALGUÉM ENCONTRAR UM LADO BOM
QUE NA COPA NÃO FUJA DESSE TOM
SEJA VERDE AMARELO OU MARROM
NÃO IMPORTA A COR NEM MESMO O SOM
VENHA AQUI E ESCREVA COM SEU DOM
QUAL O LUCRO QUE VAMOS TER COM ISSO
MEU PAÍS VAI FICAR MAIS SUBMISSO
A ESSA GRANDE MISÉRIA.COM

20 de abr. de 2014

MUDANÇAS NO MEU SERTÃO I


Muitos anos passei fora
Da terra onde eu nasci
Mas os costumes de outrora
Mesmo assim não esqueci
Não esqueci meu lugar
Quando decidi voltar
Quase não reconheci

Por falta de provisão
Na terra onde fui criado
Não voltei para sertão
No meu tempo planejado
De anos foi meio cento
Depois do meu aposento
Voltei pra ver o passado

Chorei ao pisar no chão
Do meu Nordeste querido
Não vi o velho “Chicão”
Pois já tinha falecido
Seus filhos tudo formado
Tinha dali se mudado
E do Nordeste esquecido

A velha casa que tinha
E o velho barracão
Uma casa de farinha
O passador e o mourão
Tudo tinha se acabado
E no lugar foi botado
Espaço pra um estradão

Não vi mais a estribaria
Onde capim eu cortava
Pra cuidar da vacaria
E os cavalo que eu montava
Tudo foi subtraído
“Tava” substituído
Por isso ali eu chorava

O meu pé de manga rosa
Que todo ano botava
Na sombra eu cantava prosa
Minhas canções entoava
Cortaram e  no seu lugar
“Tava” um quarto pra guardar
O carro o dono usava

O brejinho que corria
Aonde mamãe criava
Uns animais que havia
Onde os porcos se “banhava”
Secou e no seu lugar
Só servia pra jogar
Todo lixo que sobrava

A casinha do fogão
De onde muito tirei
Brasa e fogo no tição
Milho e castanha torrei
Tudo já ficou pra traz
Pois era o fogão a gás
Olhado aquilo chorei

O forró de pé de serra
E as meninas brejeira
Os caboclo “vei” de guerra
E as conversas de feira
Tudo tinha se acabado
Era coisa do passado
E parecia besteira

As músicas que se tocava
Nem parecia o sertão
Agora só se escutava
Rock, samba e paredão
A cultura adquirida
Fez minha terra querida
Parecer outra nação

Procurei no meio do mato
Não vi um papa-capim
Preía, coelho nem rato
Nem a casa de cupim
Tudo isso se acabou
E o culpado é quem botou
O veneno no capim

O lamparina de gás
Que de noite iluminava
Já não existia mais
No lugar lâmpada brilhava
As conversas linda e bela
Agora é tudo novela
No lugar ninguém estava

Não avistei um roçado
De milho nem de algodão
Tudo ali tinha mudado
Nem parecia o sertão
E de saudade chorei
Quando triste me lembrei
O que vivi no meu torrão

Pensei com os meus botões:
O avanço não é ruim
Mais tenho várias razões
Por isso estou triste assim
Pois aos poucos meu sertão
Esqueceu a tradição
Que plantou dentro mim.

JOSÉ AMAURI CLEMENTE

14 de abr. de 2014

NUNCA VOU TE ESQUECER



AUTOR: JOSÉ AMAURI CLEMENTE
 
Não sei qual foi o motivo
Que fez você me deixar
Já procurei entender
Ninguém soube me explicar
Por que você foi embora
Sem ao menos me avisar

Te dei carinho e conforto
Casa, dinheiro e paixão
Carro novo, vida livre
E também meu coração
Hoje você me humilha
Sem me dar satisfação

Talvez todo meu pecado
Foi o erro de te amar
Te dar toda confiança
Sem nada em troca cobrar
Talvez foi esse o motivo
De você me abandonar

Hoje te vejo com outro
Andando pela cidade
De mãos dadas beijo longos
Cheia de felicidade
Não compreendo o motivo
Nem a razão da maldade

Deixar tudo por você
Foram estes os meus castigos
Deixei festa e diversões
Me afastei dos amigos
Tudo pra isso pra poder
E te proteger dos perigos

Hotéis navios de luxo
Toda tecnologia
Aviões, grandes viagens
Seus sonhos e fantasia
O que não te dei ainda
Sonhei em te dar um dia

Se um dia tu voltares
Te aceito mesmo assim
Te abraçarei de novo
Esquecendo o tempo ruim
Só vou ter felicidade
Se um dia voltar pra mim

Mesmo que o tempo passe
E você mude o seu rosto
Mesmo que passe cem anos
Eu padeça de desgosto
Pode voltar que eu aceito
Pra te amar estou disposto

Quando o mundo a rejeitar
E o homem que te tem
Não quiser mais te abraçar
Por ser das rugas refém
Já quis você quando nova
E te quero velha também

Tenho desejo profundo
Pretendo realizar
Os beijos que outros te dão
Os meus não vão apagar
Enquanto estiver vivendo
Por você vou esperar

Mesmo que o tempo passe
E eu tenha que sofrer
Enquanto meus olhos brilhem
Ou mesmo se esmorecer
A última imagem que eu quero
É nos meus braços te ver.

JOSÉ AMAURI CLEMENTE
14 de abril 2014