20 de abr. de 2014

MUDANÇAS NO MEU SERTÃO I


Muitos anos passei fora
Da terra onde eu nasci
Mas os costumes de outrora
Mesmo assim não esqueci
Não esqueci meu lugar
Quando decidi voltar
Quase não reconheci

Por falta de provisão
Na terra onde fui criado
Não voltei para sertão
No meu tempo planejado
De anos foi meio cento
Depois do meu aposento
Voltei pra ver o passado

Chorei ao pisar no chão
Do meu Nordeste querido
Não vi o velho “Chicão”
Pois já tinha falecido
Seus filhos tudo formado
Tinha dali se mudado
E do Nordeste esquecido

A velha casa que tinha
E o velho barracão
Uma casa de farinha
O passador e o mourão
Tudo tinha se acabado
E no lugar foi botado
Espaço pra um estradão

Não vi mais a estribaria
Onde capim eu cortava
Pra cuidar da vacaria
E os cavalo que eu montava
Tudo foi subtraído
“Tava” substituído
Por isso ali eu chorava

O meu pé de manga rosa
Que todo ano botava
Na sombra eu cantava prosa
Minhas canções entoava
Cortaram e  no seu lugar
“Tava” um quarto pra guardar
O carro o dono usava

O brejinho que corria
Aonde mamãe criava
Uns animais que havia
Onde os porcos se “banhava”
Secou e no seu lugar
Só servia pra jogar
Todo lixo que sobrava

A casinha do fogão
De onde muito tirei
Brasa e fogo no tição
Milho e castanha torrei
Tudo já ficou pra traz
Pois era o fogão a gás
Olhado aquilo chorei

O forró de pé de serra
E as meninas brejeira
Os caboclo “vei” de guerra
E as conversas de feira
Tudo tinha se acabado
Era coisa do passado
E parecia besteira

As músicas que se tocava
Nem parecia o sertão
Agora só se escutava
Rock, samba e paredão
A cultura adquirida
Fez minha terra querida
Parecer outra nação

Procurei no meio do mato
Não vi um papa-capim
Preía, coelho nem rato
Nem a casa de cupim
Tudo isso se acabou
E o culpado é quem botou
O veneno no capim

O lamparina de gás
Que de noite iluminava
Já não existia mais
No lugar lâmpada brilhava
As conversas linda e bela
Agora é tudo novela
No lugar ninguém estava

Não avistei um roçado
De milho nem de algodão
Tudo ali tinha mudado
Nem parecia o sertão
E de saudade chorei
Quando triste me lembrei
O que vivi no meu torrão

Pensei com os meus botões:
O avanço não é ruim
Mais tenho várias razões
Por isso estou triste assim
Pois aos poucos meu sertão
Esqueceu a tradição
Que plantou dentro mim.

JOSÉ AMAURI CLEMENTE

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