25 de abr. de 2024

VICENTE E ROSA MARIA

 

No reino da poesia

Vi muita história contada

Muitas deixaram lições

Mesmo de forma engraçada

Mais nenhuma como esta

Que aqui foi relatada.

 

Ao leitor peço licença

Para em versos escrever

A história de Vicente,

E assim vai perceber

Que em nome do amor

Tudo pode acontecer.

 

No tempo que os coronéis,

Donos de propriedade,

Exploravam seus criados

Sem nada de honestidade,

Existia um fazendeiro

Por nome José Trindade.

 

Zé Trindade era o mais rico

Que tinha na região,

Dono de gado e de terra

Homem de mal coração

Que explorava os moradores

Sem ter dó nem compaixão.

 

Entre tantos moradores,

Vivia José Vicente,

Vaqueiro honesto e disposto,

Dos deveres consciente,

Bruto quando necessário,

Com o gado paciente.

 

Cuidava dos seus deveres,

Rapaz fino e educado.

Exigindo seus direitos

Sempre cortês e honrado,

Que embora ainda jovem

Era muito respeitado.

 

Trabalhava na fazenda

Desde que era criança,

Cresceu junto com o gado,

Nele tinha confiança,

Puxou ao seu velho pai,

Era sua semelhança.

 

 

Tinha dezessete anos,

Mas perecia ter mais.

Sempre esperto e cuidadoso,

Não reclamava dos ais,

Apenas falava sério

Quando cobrado demais.

 

Mas Zé Trindade, o patrão,

Nunca foi de respeitar.

Era homem muito rude,

Nunca soube elogiar,

Era arrogante e bruto,

Só sabia reclamar.

 

Por conta dessa atitude

Causava medo e pavor,

Até mesmo sua esposa

Lhe chamava de senhor.

Explorava quem podia,

Era homem sem pudor.

 

E mesmo sem ter motivo,

Não confiava em Vicente.

Não mandava ele embora

Por ser vaqueiro valente,

Não importava o perigo,

Estava sempre na frente.

 

José Trindade era o pai

De uma menina bela,

Tinha só dezesseis anos

Era uma doce donzela,

Era prometida a um rico

Mas contra a vontade dela.

 

Veja o caso, meu leitor,

A grande perversidade.

Uma menina casar

Ainda ser ter idade

Sem gostar do seu marido,

Não tinha felicidade.

 

Mas assim mandava a regra,

Era o pai que escolhia,

Quando completava idade,

O carrasco, então, dizia:

- Você vai casar com este!

E logo marcava o dia.

 

 

Rosa Maria era o nome

Da filha do fazendeiro.

Vivia no sofrimento,

Embora tendo dinheiro

O seu coração sofria,

Era grande o desespero.

 

Voltando para Vicente,

Pois ele também sofria.

Por sentir um grande amor

Por sua Rosa Maria,

Alguém que ele tanto amava,

Porém, jamais a teria.

 

Seu amor era guardado

E com cuidado e segredo

Vicente só confessava,

Não porque tivesse medo,

Reclamava suas dores

Debaixo do arvoredo.

 

Era lá que escrevia,

No pé de jacarandá,

Todo amor que sentia,

Sem ter a quem confessar,

Toda tarde estava ele

Os versos a entoar.

 

Vicente cantava assim:

“Rosa, Rosa meu amor

Tu nem sabes que eu te amo,

Como é grande o meu amor,

Irás te casar com outro,

Disso eu já sou sabedor. ”

 

Na árvore então escrevia

Frases com o nome dela

Coisa que ninguém sabia,

Nem citava o nome dela,

Mas deixava escrito lá

Seus dizeres com cautela.

 

No lugar do nome seu,

Criou uma personagem

Seu nome sempre escondeu

Porque não tinha coragem,

De revelar para ela,

Só escrevia a mensagem.

 

 

Vicente não poderia

Para ela revelar,

Por ser um simples vaqueiro

Ela iria o desprezar,

Portanto, o que lhe restava,

Era só nela pensar.

 

O leitor deve saber

Que Rosa também sofria,

Por que amava Vicente,

Porém, seu pai não sabia,

Pois se descobrisse isso,

Com certeza lhe batia.

 

Por isso ela escrevia

Em um diário escondido,

Todos os seus sentimentos

Pelo amor proibido.

Guardava como segredo

Para não ser esquecido.

 

Dentro do quarto de Rosa

Sem contar para ninguém,

Ela escrevia os segredos

De carta já quase cem,

Nem sonhava que Vicente

Amava ela também.

 

Mas não existe segredo

Que não seja revelado.

Um dia estava Vicente

Em seu cavalo montado

Debaixo do arvoredo

Onde estava acostumado.

 

Lembrou-se de sua amada

E um verso recitou

Pensado que estava só,

Mas coitado, se enganou,

Trindade desconfiado

Nesse dia lhe marcou.

 

Disse Vicente no verso:

“Rosa minha, Rosa amada,

Se soubesses que te quero

E que por mim és amada,

Eu fugiria contigo,

Ainda essa madrugada. ”

 

 

Zé Trindade ouviu o verso,

Porém, nada comentou.

Ficou só observando,

Viu que ele desmontou,

E em direção a árvore

Vicente, então, caminhou

 

Tirou o seu canivete

E alguma coisa escreveu.

Sem saber que Zé Trindade

Estava nos passos seu,

Depois Vicente saiu

Quando uma frase escreveu.

 

Zé Trindade, então, olhou

O que Vicente escreveu.

Não tinha o nome da filha

Mas o verso era o seu,

No lugar do nome dela,

Um personagem escreveu.

 

Zé Trindade teve ódio

Que deixou transparecer,

Depois que leu as mensagens

Quase chegou a morrer,

E foi direto à fazenda

Para o caso resolver.

 

Chamou logo por Vicente:

- Seu moleque desgraçado!

Você sente o que por Rosa?

Fale e não fique calado!

Agora eu já sei de tudo,

O caso está revelado.

 

Vicente não estremeceu,

E disse assim: - Meu patrão,

Eu amo Rosa Maria

Do fundo do coração.

Estou disposto a morrer

Pra ganhar seu coração.

 

Mas pode ficar tranquilo,

Não precisa gritar tanto.

Eu não tenho condições,

Pelo menos por enquanto,

De casar com sua filha,

Então, por que o espanto?

 

 

- Seu marginal descarado!

Como ousa me afrontar?

Um pé rapado sem nada,

Ousa me desafiar.

Não sei por que hoje mesmo

Eu não mando te matar.

 

Era só o que faltava.

É uma infelicidade.

Um vaqueiro pé rapado,

Querendo ser um Trindade

Além de pobre, um moleque,

Para isso é sem idade.

 

Pode arrumar suas malas

Se tiver o que levar!

Nessa fazenda que eu mando

Nas terras desse lugar,

Se eu encontrar com você,

Saiba que vou te matar!

 

Em toda essa região,

Se eu souber que alguém te deu

Morada ou mesmo comida,

Descumprindo o ato meu

Mando embora ou mato todos,

Aqui quem manda sou eu!

 

Vicente encarou trindade,

Com coragem nem tremeu.

- Saiba o senhor que sou novo,

Mas não temo o grito seu,

Você pode ter dinheiro,

Quem tem coragem sou eu!

 

Escondi até agora,

Mas com coragem te digo,

Não importa o que aconteça,

Enfrento qualquer perigo,

Um dia se ela quiser,

Vou levar Rosa comigo.

 

Virou as costas e saiu

E nem para traz olhou.

Trindade com tanto ódio,

Quase não acreditou,

Foi o único na fazenda

Que a voz com ele alterou.

 

 

Vicente andou alguns passos

E disse assim: - Meu amigo,

Mesmo que o tempo passe,

Mesmo que eu sofra o castigo,

Volto aqui nessa fazenda,

Vou levar Rosa comigo!

 

Tão cego Trindade estava

Que em mais nada pensou.

Foi procurar sua filha,

E a ela perguntou:

- O que sentes por Vicente?

Rosa assim lhe respostou:

 

- Quem é Vicente meu pai?

Esse nome eu não conheço.

Por que falas nesse tom?

Eu acho que não mereço.

É um novo morador?

Diga qual seu endereço!

 

- Rosa ouça o que te digo

E faça tudo na vida.

Você sabe que a outro,

Você está prometida,

Se eu descobrir traição,

Acabo com tua vida!

 

- Fique tranquilo papai,

Pois já sabe quem sou eu.

Eu sei do meu compromisso,

E sigo o destino meu,

Irei casar com o homem

Que o senhor escolheu.

 

Porém, saiba de uma coisa:

Eu preciso lhe falar.

Eu não amo homem algum,

Nem mesmo o que vou casar,

Não sei nem o nome dele,

Faço o que senhor mandar.

 

Serei pra sempre infeliz,

Por casar com alguém estranho.

Não entendo essa atitude,

Nem um mal de tal tamanho.

Seu interesse é somente,

Por causa de todo ganho.

 

 

Trindade então respondeu:

- Prepare-se para casar

Mesmo sem ter sentimento,

Você aprende a gostar.

Foi assim com sua mãe,

Eu não pretendo mudar.

 

E já tem data marcada,

Eu esqueci de falar.

Vou trazer seu noivo aqui

E pode se preparar,

Falta menos de um mês

Para você se casar.

 

O padre já está sabendo,

E os convidados também.

Agora você já sabe,

Por mim está tudo bem,

Seu noivo vai vir aqui

Já na semana que vem

 

Virou as costas e saiu

Como fez José Vicente

Sem se importar se a filha,

Achava isso descente,

Rosa, porém, tinha planos

Para fazer diferente.

 

Mesmo chorando a partida

Do seu Vicente querido,

Chamou logo a empregada,

E lhe fez logo um pedido:

- Leve isso aqui pra Vicente,

Antes do caso perdido.

 

Pegou todas as suas cartas

Que pra Vicente escreveu:

- Procure ele e entregue,

Diga quem mandou fui eu,

Não conte isso a ninguém,

É segredo meu e seu.

 

A empregada partiu

E ainda encontrou Vicente

Na saída da fazenda

E disse muito contente:

- Mandaram lhe entregar isso,

Fuja imediatamente!

 

 

Nas mãos de José Vicente

Foi entregue escrito a mão,

Em um pequeno baú,

Em forma de coração,

Os sentimentos de Rosa

Por sua grande paixão.

 

Vicente tinha um cavalo

Comprado com seu dinheiro,

Foi com ele que partiu

Daquelas terras ligeiro,

Levava apenas coragem,

Nenhum pouco de dinheiro.

 

Com dois dias de viagem

Quase sem se alimentar,

Sentou-se em um tronco seco

Pra o cavalo descansar,

Abriu, então, o baú,

E começou a chorar.

 

Se de raiva ou de amor,

Não sei dizer no momento.

Cada carta que ele lia,

Aumentava o sentimento,

Por sua Rosa Maria,

Ô meu Deus, que sofrimento!

 

Nas cartas Rosa contava

O seu amor verdadeiro,

Dizia ela: “Vicente,

Mesmo eu tendo dinheiro,

Saiba que apenas você,

É meu amor verdadeiro.

 

Entre as cartas que Vicente

Leu sentado ali no chão,

Uma, porém, lhe marcou,

Comoveu o coração,

Vou relatar ao leitor,

Preste bastante atenção.

 

Dizia Rosa a Vicente:

“Saiba que vou me casar

Com alguém que nunca amei,

Mas preciso revelar,

Que só amei a você,

E sempre vou te esperar.

 

 

Mesmo que passe cem anos

Sem se quer te conhecer,

Pois nunca tivemos juntos,

Mas ouça que vou dizer,

Mesmo que case com outro,

Nunca vou te esquecer.

 

Estamos muito distantes,

Só porque tenho dinheiro,

Mas nem todo ele compra,

A esse amor verdadeiro,

Pois enquanto eu existir,

Dele sou prisioneiro.

 

Talvez Vicente querido,

Você nunca leia isso.

Mesmo eu casando com outro,

Assumirei compromisso,

Mas meu amor por você,

Parece que foi feitiço.

 

Sentado naquele tronco,

Vicente nem percebeu,

A noite estava chegando,

E então reconheceu,

Que o coração de Maria,

Era também todo seu.

 

Tomou uma decisão

De fazer o que poder,

Até mesmo o impossível.

“Eu quero ela também quer.

Um dia Rosa Maria,

Vai ser a minha mulher.”

 

No verso da mesma carta,

José Vicente escreveu.

Esperou anoitecer

E o plano, então, se deu,

Voltou a noite à fazenda,

Veja como aconteceu.

 

Andou de novo dois dias

Com a carta bem guardada,

Descansando no caminho,

Foi em busca da amada,

Entregou a carta a ela,

As duas da madruga.

 

 

 

Com cuidado pra não ser

Visto pelo guardião,

Vicente entrou na fazenda,

Trazendo a carta na mão,

Pela janela do quarto,

Jogou a carta no chão.

 

Rosa Maria assustada

Pegou a carta e abriu,

Vicente pra não ser visto,

Virou as costas e partiu,

Rosa ainda viu o vulto

Olhou o céu e sorriu.

 

Dizia a mensagem escrita

Na mesma folha dobrada:

“Voltarei pra te buscar,

Não esqueça minha amada,

Nem que demore cem anos,

A promessa está firmada.”

 

Maria beijou a carta,

Guardou com todo cuidado.

Aquela seria a prova

Do que disse seu amado,

Dentro do coração dela

Ele estava tatuado.

 

José Trindade a seus planos

Vai dar continuidade.

A decisão que tomou

Com orgulho e falsidade,

Irá casar sua filha,

Contrariando à vontade

 

Um mês depois desse fato

Assinou o documento,

Estava agora casada,

Sem ter nenhum sentimento,

Viu o marido somente

No dia do casamento.

 

Não podia fazer nada,

Tinha que honrar o marido,

Era assim que a lei mandava,

Portanto, era proibido,

Descumprir a regra santa

Que o padre havia pedido.

 

 

Seus deveres de esposa

Rosa cumpria direito,

Mas o amor por Vicente

Não saia do seu peito,

Acreditava que um dia

O caso teria jeito.

 

Rosa Maria casada,

Zé Trindade satisfeito,

Na cabeça deste homem,

Um casamento perfeito,

Tudo estava caminhando

De acordo com seu jeito.

 

Agora volto a falar

Do jovem José Vicente,

Partiu pra outra cidade,

Um lugar bem diferente,

Uma decisão difícil

Que não o deixou contente.

 

Vendeu o cavalo seu

Por alguns contos de réis,

Partiu em busca de abrigo,

Trabalhar pra coronéis,

Passou muito tempo assim,

Com muitos homens cruéis.

 

Cinco anos se passaram,

Já era homem formado

Nunca esqueceu sua amada,

O plano estava guardado

Cumprir a sua promessa

Era o dia mais sonhado

 

Sempre honesto e cumpridor

Dos deveres que lhe davam,

Todos que lhe conheciam,

Nele também confiavam,

Os que com ele viviam,

Sempre o elogiavam.

 

Até que um belo dia

O coronel Adelbrando,

Homem rico e poderoso,

Viu zé Vicente cuidando

Do gado do seu vizinho

E ficou observando.

 

 

Observou que José

Era muito cuidadoso,

Com o gado do cercado,

Mesmo bezerro manhoso,

Quando necessário rude,

Com os mansos carinhoso.

 

Convidou para morar

Na fazenda Riachão,

Lhe pagando um bom salário,

Por sua dedicação,

José Vicente aceitou

E foi morar com o patrão.

 

Era muito diferente

Na forma de ser tratado,

O coronel Adelbrando,

Era fino e educado,

José Vicente ficou

Da fazenda encarregado.

 

Nunca mais teve notícia

De sua Rosa querida,

Porém, nunca lhe esqueceu,

Nem um minuto na vida,

Nem da carta que deixou

Na hora da despedida.

 

Na fazenda trabalhava

E cumpria seu horário,

E todo mês separava

Uma parte do salário,

Tinha planos pra o futuro

Esse era o vocabulário.

 

Com três anos ele já tinha

Guardado um bom dinheiro,

Seu patrão sabendo disso

Mandou lhe chamar ligeiro,

E disse eu tenho um bom plano

E vou lhe contar primeiro.

 

Soube que você já tem

Algumas economias,

Sei que já vem planejando

Isso já faz alguns dias,

Comprar a propriedade

Do coronel Adonias.

 

 

José Vicente falou:

- Meu dinheiro ainda é pouco

Para comprar a fazenda,

Não posso entrar em sufoco,

Pra comprar aquelas terras

Ou tem dinheiro ou é louco.

 

- Vou te propor um negócio,

Não sei se vai aceitar.

Sei que o dinheiro que tem

Não dá pra você comprar,

Mas eu te empresto o dinheiro

Sem prazo para pagar.

 

- Como assim? - Disse José -

Como eu te pagarei?

- Trabalhando para mim.

Esse caso eu já pensei.

Vou te fazer um favor,

Assim eu te ajudarei.

 

As terras de Adonias

São boas pra produzir,

Tudo que se planta dá

Você já pode investir,

Essa é a grande chance,

Você não pode fugir.

 

Você trabalha pra mim,

Vou aos poucos descontando,

Um pouquinho a cada mês,

A gente vai conversando,

Nem precisa alguém saber

Que eu estou te ajudando.

 

Uma parte do dinheiro

Sei que você tem guardado,

Pois já tem quase a metade,

E ainda tem o seu gado

Que é pouco mais eu sei

Que é rebanho cuidado.

 

José Vicente aceitou,

Fechou negócio na hora,

Tava tudo dando certo

E ficou melhor agora,

Comprou as terras e botou,

O nome Fazenda Aurora.

 

Acredito que o leitor

Deve estar se perguntando,

Como está Rosa Maria?

Como ela está passando

Depois de todo esse tempo

Pelo amor esperando?

 

Cinco anos a esperar

Pelo homem que ainda ama,

Agora com vinte e um,

É uma senhora dama,

Vive com o marido em casa,

Sonha com outro na cama.

 

Às vezes Rosa pensava:

- Será que ele me esqueceu?

Das cartas que escrevi,

Do amor que prometeu,

Será que o coração

De José ainda é meu?

 

Da mesma forma José

As vezes se perguntava.

Será que Rosa Maria

Ainda nele pensava?

Confiante na promessa

Por Rosa ainda esperava.

 

Um dia Rosa cansou

De fingir para o marido,

Chamou ele lhe contou

Do seu amor proibido,

Revelou que de José

Nunca havia se esquecido.

 

O marido então lhe disse:

- Eu bem já sabia disso.

Cinco anos esperou,

Sem fugir do compromisso,

Esse amor seu por José,

Está parecendo feitiço.

 

Por isso eu já decidi

Não é certo esta ação,

Você vivendo comigo,

Com outro no coração,

Pensei nisso muitas vezes

E tomei a decisão.

 

 

Vou embora dessa casa

Pois já pude perceber

Amor é um sentimento

Que não podemos conter,

Viva em paz com seu amado,

É assim que tem que ser

 

Rosa se surpreendeu

Com a atitude do marido,

Por entender seu amor,

Por outro não prometido,

E saber que de José

Ela não tinha esquecido.

 

- Fique em paz - Disse o marido.

Esse é o teu sentimento.

Afinal nós não podemos,

Controlar o pensamento,

Nunca senti teu amor,

Nem mesmo por um momento.

 

Quando o coronel Trindade

Ficou sabendo do fato,

Que o casamento acabou,

Não aprovou este ato.

- Se Rosa foi traidora,

Pode acreditar que eu mato.

 

- Não senhor, seu coronel

Esse fato não se deu.

O culpado dessa história

E tudo que aconteceu,

Tô deixando sua filha,

Mas o culpado sou eu.

 

José Trindade saiu

Com um ódio desgraçado,

Este acontecimento,

O deixava envergonhado,

Sabia que o casamento,

Já estava terminado.

 

Foi falar com sua filha

Bruto e muito ignorante,

Pois achava atrevimento,

E um fato angustiante,

Rosa deixar o marido

Por conta de outro amante.

 

 

- Pois fique você sabendo

Que na família Trindade,

Não tem gente desse jeito,

Isto é fatalidade,

Você traindo o marido,

Isso é infelicidade.

 

Rosa Maria, você

É a desgraça da família!

Espero que os descendentes

Nunca sigam nessa trilha,

Saiba que de hoje em diante

Você não é minha filha.

 

Rosa, então, lhe respondeu:

- Já chega de sofrimento

Você todos estes anos,

Zombou dos meus sentimentos,

Sem procurar nem saber

Qual era o meu pensamento.

 

Saiba o senhor, meu pai,

Mesmo sem você querer,

Serei sempre tua filha,

Mas hoje vou te dizer

Daqui pra frente eu resolvo

Só a Deus obedecer.

 

Nem sei se José Vicente

Ainda lembra de mim,

Mas saiba que meu destino

Ou se Deus quiser assim,

Sei que um dia o meu amado

Ainda volta pra mim.

 

Vou te contar um segredo,

Disso o senhor não sabia,

Nem pensou nos sentimentos

Que todo o tempo eu vivia,

Vou amar José Vicente,

Até o meu último dia.

 

Assim ele prometeu,

Eu também lhe prometi,

Está escrito nas cartas

Que eu pra ele escrevi,

Também em suas mensagens

Que de José recebi.

 

 

Saiba seu José Trindade

Que toda sua riqueza,

Não compra meus sentimentos,

Essa é a sua fraqueza,

Vou seguir meus pensamentos,

Disso já tenho certeza.

 

Por isso já procurei

Me separar legalmente

Dei entrada no divorcio

Isso eu já tinha em mente

Pois pretendo me casar

Na igreja novamente

 

Pois assim manda a Lei Santa

Disso eu fui informada

Casamento sem amor

Para Deus não vale nada

Vou me casar com o homem

Para o qual fui preparada

 

José trindade explodiu

E de ódio estremeceu:

- Saiba que de hoje em diante,

Tudo aquilo que é meu,

Vou vender e vou embora

Pois nada daqui é seu.

 

Faz de conta que morri,

Você já não tem mais pai,

Fique aqui ou vá embora,

Sei que um dia você sai,

Encontrar esse maldito

Sei que um dia você vai.

 

Mas saiba de uma coisa,

Se eu encontrá-lo primeiro,

Acabo com a vida dele,

E vai ser o derradeiro

Dia de José Vicente,

Mesmo que eu gaste o dinheiro.

 

Vou vender essa fazenda

E todo gado que tenho,

Mas mato esse desgraçado,

Pensando isso já venho,

Pode custar minha vida,

Mas a palavra mantenho!

 

 

Ao leitor volto a falar

Do herói José Vicente,

Que dedicou seu esforço,

Mas tinha na sua mente,

Encontrar a sua amada

Viver com ela somente.

 

Bem pouco tempo depois

Conseguiu arrecadar,

O tanto que precisava

Para a fazenda pagar,

O que pegou emprestado

Logo conseguiu quitar.

 

Por ser homem cuidadoso,

Pôde ele prosperar,

Pelos seus investimentos,

Passou a negociar

Sonhando em voltar às terras

E com Rosa se casar.

 

Volto a falar ao leitor

Do rico José Trindade,

Deixou a sua fazenda

E foi morar na cidade,

Foi atitude tomada

Pra sua infelicidade.

 

Botou a fazenda à venda,

Começou a planejar,

Não mandou Rosa ir embora,

Pois resolveu esperar,

Pegar ela de surpresa

Depois de negociar.

 

Mandou um dos seus capangas

Fazer negociação,

Com quem viesse comprar

Era dele a decisão.

“Venda essa propriedade

Quero o dinheiro na mão. ”

 

Disse o valor da fazenda.

“Não quero saber a quem.

Venda terra, venda do gado,

E tudo que nela contem,

E se quiserem comprar

Venda Rosinha também.

 

 

Seguindo a ordem do chefe

Começou-se a propagar,

Que a fazenda estava a venda

Pra quem quisesse comprar,

Até que José Vicente

Ouviu do caso falar.

 

Pelo valor da fazenda

Muito tempo se passou,

Por ter preço muito alto,

Ele não negociou,

O ódio de Zé trindade

Cada vez mais aumentou.

 

Quatro anos se passaram,

José Trindade dizia:

- Eu só vou ter paz na vida

Voltar a ter alegria,

Quando eu ver José Vicente

Descer para a tumba fria.

 

Nunca mais foi à fazenda,

Aos poucos vendeu o gado,

Só sabia de notícias,

Quando alguém dava recado,

O capataz da fazenda

Era seu encarregado.

 

O ódio por Zé Vicente

Foi tudo que carregou,

Toda fortuna que tinha,

Com pouco tempo gastou,

Sem ter alguém que apoiasse

O ato que praticou

 

Até a sua mulher

Por não aguentar mais,

Toda sua ignorância,

E por sofrer tantos ais,

Deixou Trindade sozinho

E foi morar com seus pais.

 

Os avós Rosa Maria

Eram os dois abastados,

Tinham casas e fazendas,

Grande rebanho de gados,

Trindade ficou sozinho,

Com seu orgulho guardado.

 

 

Voltando a José Vicente

Sei que o leitor quer saber,

Quando soube que a fazenda

Estava para vender,

Disse: - Não importa o preço,

Ela vai me pertencer.

 

Sei que por regulamento

Maria tem seus direitos,

Mas pode ser que um dia,

Seu Trindade encontre um jeito,

Não vou dar motivo nunca

Dele me botar defeito.

 

Sou homem suficiente,

Nisso eu tenho confiança,

Compro as terras todinha,

De Rosa até a herança ,

Vou ter ela nos meus braços

É minha grande esperança.

 

Mandou um dos seus criados

Procurar José Trindade:

- Faça negócio com ele,

Lhe procure na cidade,

Não importa qual o preço,

Mas não lhe diga a verdade.

 

Ele não pode saber

Que o comprador sou eu,

Nem mesmo Rosa Maria,

Sabe do segredo meu,

O destino dessa vez,

Vai devolver o que é seu

 

Foi o criado falar

Com o coronel Trindade.

Vicente agora sabia

Que sua felicidade

Estava se aproximando,

Isso era realidade.

 

Quando o criado chegou

Trindade lhe deu apreço,

Depois de longa conversa,

Acertaram, então, preço:

- A fazenda está vendida,

Já sabe meu endereço.

 

 

Disse o criado a Trindade:

- Já prepare a papelada,

Daqui a duas semanas

A conversa está marcada

Eu lhe entrego seu dinheiro,

Aí não falta mais nada.

 

O preço foi muito alto,

Mas para José Vicente,

Não fazia diferença,

Pois ele estava contente,

Só restava agradecer

Ao Deus onipotente.

 

Pegou as economias

Que a muito vinha guardando,

Vendeu um gado que tinha

E saiu negociando,

Com menos de uma semana

Tava o dinheiro contando.

 

O leitor agora está

Pensando em Rosa Maria,

Já que ela não tem mais terras

Onde ela ficaria,

Trindade estava disposto

A fazer o que queria.

 

Pensava em seu coração:

“Agora vou me vingar,

Rosa não tem mais a casa

Não sei onde vai ficar,

Quero ver se dessa vez

Ela vai me procurar.

 

O dinheiro da fazenda

Gasto antes de morrer,

Rosa fica na miséria,

Agora ela vai sofrer,

Não deixo um conto pra ela,

Quero ver como vai ser.

 

Deixar todos na miséria

Era dele essa maldade

A mãe e Rosa Maria,

Meu Deus, que perversidade,

Como pode alguém assim

Não ter dó nem piedade?

 

 

Rosa então ficou sabendo

Que a fazenda foi vendida,

Não entrou em desespero

E nem ficou ofendida,

Sabia que com os avós

Ela estava protegida.

 

A fazenda foi vendida,

Porém, Rosa não sabia

Que Zé Vicente era o dono

E tudo lhe pertencia,

Seu sonho estava mais perto

Pediu a Deus todo dia.

 

No dia do pagamento

Zé Trindade recebeu,

Contou o dinheiro todo

E ao dono, então, lhe deu,

A escritura da terra,

Veja o que aconteceu.

 

Dentro do mesmo pacote

Numa carta escrita à mão,

Jose Vicente escreveu,

A grande revelação,

Quando Trindade viu isso

Quase para o coração.

 

Dizia o papel escrito

Ao senhor José Trindade:

“Lhe escrevo esta carta

Com muita felicidade,

Para que o senhor saiba

Da grande realidade.

 

Quem comprou sua fazenda

Agora vou lhe contar,

Foi aquele garotinho

Que o senhor jurou matar,

E que um dia prometeu

De com Rosa se casar.

 

Jose Vicente sou eu,

Esta é toda verdade.

A terra que era sua

São minha propriedade,

Vou casar com sua filha

Pra nossa felicidade.

 

 

Sei que ela me espera,

Eu espero ela também,

Antes de Rosa Maria,

Eu nunca amei mais ninguém,

Pois um amor como o nosso

Em outro casal não tem.

 

O mundo dá muitas voltas

E hoje vou lhe dizer,

Agora sou eu quem mando

Trate de me obedecer,

Saia da propriedade

Se não quiser mais me ver.

 

Antes do fim da leitura

Trindade estava tremendo,

Sem acreditar em nada

Do que estava acontecendo,

Agora estava pagando

Tudo que estava devendo.

 

Voltou para sua casa

Na cidade onde morava,

Não comia nem bebia

E o sono não chegava,

Olhando pra tudo aquilo

Quase não acreditava.

 

Uma semana depois

Soube mais uma verdade,

Disseram: - José Vicente

Tá vindo para a cidade,

Morar em sua fazenda

Que comprou de Zé Trindade.

 

Quando soube da notícia

E tudo que aconteceu,

Rosa quase desmaiou,

Sabia que o sonho seu,

Estava realizado

Por todo amor que lhe deu.

 

Sabia que cedo ou tarde

O seu grande amor iria

Cumprir o seu juramento

Que a ela fez um dia,

E esperava sonhando,

Oh meu Deus, quanta alegria!

 

 

Vicente preparou tudo

Para fazer a surpresa,

Visitar Rosa Maria,

Botar as cartas na mesa,

O leitor está atento,

Disso eu tenho certeza.

 

O velho José Trindade

Ao saber do acontecido,

Aumentou mais o seu ódio,

Estava doido varrido,

Pois sabia que a batalha

Ha muito tinha perdido.

 

Uma noite sem dormir

Olhando para o dinheiro,

Sozinho dentro de casa,

Sob a luz do candeeiro,

Com tanto ódio no peito,

Se viu num despenhadeiro

 

Juntou tudo em um pacote

Era o todo adquirido,

Pela venda da fazenda,

Estava doido varrido,

Botou gás e tocou fogo

Estava tudo perdido.

 

Pegou a arma que tinha

Debaixo do seu colchão,

Deu um tiro no ouvido,

Quem ouviu a explosão,

Foi ver, mas já era tarde,

Não tinha mais solução.

 

José Trindade morreu,

Perdeu tudo quanto tinha,

Famílias terras e gado,

Naquela vida mesquinha,

Foi encontrado deitado,

Lá no chão da camarinha.

 

Enterraram Zé Trindade,

Ninguém por ele chorou,

A não ser Rosa Maria,

Que a ele sempre honrou,

Mesmo sendo ele ruim,

Sua filha o perdoou.

 

 

Sei que leitor deve está

Ansioso pra saber,

Onde está José Vicente,

O que vai acontecer,

Calma que volto a falar,

Espere, você vai ver.

 

Dois dias depois da morte,

Jose Vicente escreveu

Uma carta para Rosa,

E assim aconteceu,

Mandou entregar a ela

Que sorrindo recebeu.

 

A carta dizia assim:

- Rosa, minha linda flor,

De tudo que aconteceu

Estou sendo sabedor,

Me diga se ainda tens

Por mim um sincero amor.

 

A fazenda do teu pai

Comprei com o dinheiro meu,

Só vou tomar posse dela,

Pois assim espero eu,

Se você casar comigo

Como um dia prometeu.

 

Muitos anos se passaram,

Não sei se lembras de mim,

Mas a promessa que fiz,

Está firme até o fim,

Me responda minha amada,

Se ainda gostas de mim.

 

Pois tudo na minha vida,

Para mim só tem proveito,

Se eu poder dedicar,

Esse amor que é perfeito,

Pra sempre terei teu nome,

Guardado dentro do peito.

 

Quando Rosa recebeu

A carta do seu amado,

Estremeceu o seu peito,

Pois estava confirmado,

Todo amor que a Vicente

Ela tinha dedicado.

 

 

Mandou dizer a José:

“Sempre te quis meu amado.

Tudo que te prometi,

Tá dentro de mim guardado,

Nunca amei outra pessoa,

Mesmo tendo me casado.

 

José Vicente marcou

Pra com Rosa se encontrar,

No casarão da fazenda,

Pois queria realizar,

O sonho de tanto tempo

De com Rosa se casar.

 

Logo no dia seguinte

O encontro foi marcado,

Ambos estavam felizes,

O sonho realizado,

Era o dia mais bonito

Que os dois haviam sonhado.

 

O beijo daquela noite

Foi o que mais esperou

Rosa estava mui feliz,

Quando o amado abraçou

Parecia estar sonhando

Quase não acreditou

 

No terreiro da fazenda

Os dois ali se beijaram

A lua por testemunha,

De tão felizes choraram

Por esse momento juntos

Ambos haviam sonhado

 

Dono de todas as terras

Onde um dia foi vaqueiro,

Agora com sua amada

E ainda com algum dinheiro,

Já marcaram o casamento

Para quinze de janeiro.

 

Foi a festa mais bonita

Que teve na região,

José Vicente com Rosa,

Quanto amor, quanta paixão,

Valeu a pena esperar,

Confortava o coração.

 

 

Casaram na capelinha,

Na fazenda construída,

Foi a festa mais bonita

Que já vi em minha vida,

Para quem participou

Jamais será esquecida.

 

Mandou, então, construir

Uma casa na fazenda,

Pra viver com sua amada,

Sua verdadeira prenda,

Deus abençoou os dois,

Vivendo da própria renda.

 

Rosa Maria e Vicente

Viveram muitos janeiros,

Tiveram filhos e filhas

De amores verdadeiros

Que viveram em sua casa

Enquanto eram solteiros.

 

Aqui termino a história,

O leitor bem pode ver,

Feche os olhos, imagine,

A cena que vou dizer,

Para que um pouco dela

Também possa reviver.

 

José Vicente e Maria

São hoje uma raridade,

Agora já bem idosos,

Vivem a realidade,

Sem ter do que se culpar,

Pois se amam de verdade.

 

Ao leitor dou testemunho,

Pois vivi essa história,

Hoje com noventa anos,

Guardo tudo na memória,

Vivo com Rosa Maria

Lutando e tendo vitória.

 

A vida é cheia de escolha

Mesmo com dificuldade,

A gente pode escolher,

Unir o bem à verdade,

Rir das coisas mais difíceis,

Ir atrás da liberdade.

 

 

 

 

 

 



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Facto fictício

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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