Vou contar nesse meus versos
Se eu errar você me cobre
Vou relatar o que faz
A pessoa quando é pobre
Se assim não procedeu
É por que você nasceu
Numa família de nobre
Todo pobre já usou
Bombril na televisão
Amarrado na antena
Pra melhorar a visão
Também muito confiante
Já amarrou um barbante
Pra segurar o calção
Todo pobre já usou
A escova de um parente
Por ter esquecido a sua
Para escovar os “dente”
Ou botou a pasta não mão
Com o dedo dando esfregão
Mostrando ser diferente
Todo pobre já passou
Ou vive um momento mal
E quando usou o banheiro
Precisou usar jornal
E por não ter a melhora
Já passou mais três “hora”
Na fila de um hospital
Todo pobre treme logo
Quando fala com um juiz
E mesmo sem dever nada
Diz: eu juro que não fiz
Quando vai a um casamento
Come que só um jumento
Sai sorridente e feliz
Todo pobre já juntou
Num cantinho do banheiro
Um monte de sabonete
Pra economizar dinheiro
Junta tudo num montão
Que é para fazer sabão
Com gordura de carneiro
Todo pobre na mudança
Já levou um tamborete
Um feixe de lenha seca
Uma vara e um cassete
Pra tanger cachorro “brabo”
Comeu feijão com quiabo
E disse fiz um banquete
Todo pobre já levou
O filho para a escola
Reclamando do atraso
Com os livro numa sacola
Enquanto ele chuta adiante
Lata de refrigerante
Dizendo que uma bola
Todo pobre já sentou
Pra assistir futebol
Sentado no chão sozinho
Enrolado no lençol
Com um litro de pitu
“Mei” quilo de sururu
Que não pega de anzol
Todo pobre já pediu
Farinha e sal emprestado
Fosforo tempero ou açúcar
Por ter o dele acabado
Ou então por estar liso
Pra ter ou dar prejuízo
Saiu pra comprar fiado
Todo pobre já esquentou
Uma caneta no fogão
Pra ver se ela pegava
Ou esfregou com a “mão”
Apontou lápis com faca
Com os dedos já comeu jaca
Limpou com óleo e sabão
Todo pobre já botou
Um prego pra sustentar
A correia da sandália
Pra poder aproveitar
O restinho do solado
Teve que comprar fiado
Pra depois ter que pagar
Todo pobre já passou
Vergonha no “mei” do povo
Já comeu feijão de corda
Fava com rabada e ovo
Café com charque e cuscuz
Ficou sem pagar a luz
Pra ser cobrado de novo
Todo pobre já espremeu
Pasta de dente vazia
Botou uma força danada
Pra ver se ela rendia
Ou escovou com sabão
"Acocorado" no chão
Por não ter água na pia
Todo pobre já pegou
Carona pra viajar
No carro de algum amigo
Foi por não poder pagar
Mesmo sem ter um cruzado
Bateu um papo danado
Pra poder se desculpar
Todo pobre já entrou
Numa loja pra olhar
O vendedor se aproxima
Querendo lhe ajudar
Por não ter ele um cruzado
Diz assim: Muito obrigado!
Estou só a observar
Tem muita coisa de pobre
Que eu poderia escrever
Sei que pelos menos uma
Tu já chegou a fazer
Não me venha com conversa
Sai daí e deixa dessa!
Tu não quer mesmo é dizer
Digo isso sem vergonha
Sem ter medo de dizer
Com versos aqui relato
No papel vou escrever
Digo a verdade e bem sei
Quase todas que citei
Eu já tive que fazer
José Amauri Clemente
Todos os direitos reservados
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