Seu dotô me dê licença
Pois eu preciso falar
Me oiça com paciença
E permita eu me sentar
Pois já tô veio e cansado
Pelo tempo maltratado
E pelas doença moído
Tenho oitenta e três janeiro
Desde mínimo vaqueiro
Hoje veio e esquecido
Seu dotor, oiça e me entenda
Pois assim ouvi falar
Que o casarão da fazenda
O sinhô vai derrubar
Construída por seus pais
Hoje com cem ano ou mais
Casa onde o senhor nasceu
Que tem história gravada
Que pra sempre será contada
Os fatos que alí viveu
Seu dotô olhe pra ela
Hoje veia e desbotada
Com as parede amarela
E pelo mofo manchada
Essa casa seu dotô
Tem história sim sinhô
Se ela pudesse falar
Os causo de sua vida
As história aqui vivida
Ela iria lhe contar
Lembrar toda sua infança
De quando o senhor nasceu
Desde que era criança
E como nela cresceu
Pois foi nela sim sinhô
Que o sinhô istudô
Para ter conhecimento
Agora que tá formado
Por que é home estudado
Vem com seus esquecimento
Essa casa seu dotô
Tem a histora dagente
Tudo que aqui se criô
Vai viver eternamente
As manga que nós cuiemo
No alpendre se sentemo
Pra comer fazendo graça
Está aqui no meio peito
Já tentei não teve jeito
Esses momento não passa
As cantiga de toada
Que a noite se cantava
Enquanto sua empregada
Café pra gente botava
Os cachorro que latia
Quando alguém aparecia
Nas madrugada sozinho
Todas essas emoção
Guardei no meu coração
Reservado num cantinho
No terreiro com os minino
No batido desse chão
No verão de tino a tino
O sinhô jogava pinhão
Lembro das festa junina
Que o sinhô cum as minina
Corria na inocença
Brincava de ser cumpade
Tivemo muitas cumade
Essa era a nossa crença
Dentro das parede dela
Bate o nosso coração
Mermo sendo assim singela
Sem aparência e afeição
Tem história registrada
Que nunca foram apagada
Mermo sendo de outrora
O que vivi nesse chão
Sinto a merma sensação
Como se vivesse agora
Essa casa seu dotô
Ela não é sua somente
É de todo os moradô
Que aqui prantou semente
Pois ela tem um passado
Que nunca foi apagado
Queira o sinhô ou não queira
Por isso eu estou chorando
Mermo o sinhô achando
Que o que sinto é besteira
Lembro sempre das buchada
E dos forró no terreiro
Das pingas e das feijoada
E das festas de janeiro
Das festas de são José
Dos foguete e buscapé
Que nos terreiro sortava
Das menina bem vestida
Que se mostrava atrevida
Quando a gente paquerava
Ali torremo castanha
De pega-pega brinquemo
Vimo muito coisa estranha
Mas nunca nos assustemo
Eram historia bunita
Que cantava mamãe Nita
Pra fazer medo pra gente
Depois contava em segredo
Fiz isso pra fazer medo
Pode ir dormir contente
Samba de coco e pagode
Mio assado na fogueira
Bacaiau, carne de
bode
Que se trazia da feira
Pra comer com os morador
Uns home trabaiador
No fim da tarde sentava
Foi aqui nesse terreiro
Que vi muitos violeiro
Que sentado improvisava
Lembro o rádio que ligava
Antes do cantar do galo
Um mourão que alí estava
Para amarrar meu cavalo
Quando eu ia selar
Pra sair pra campear
A boiada do seu pai
Já chorei disso lembrando
Mesmo eu lutando, lutando
De dentro de mim não sai
Tudo isso se acabou
Depois que seu pai morreu
O senhor não conservou
Nossos costume esqueceu
Agora só resta a casa
Meu coração arde em brasa
Ao receber o recado
Que o senhor vai destruir
Para outra construir
Por isso estou magoado
Seu dotô, meu companheiro
Me faça essa caridade
Dexe eu morrer primeiro
Pra fazer essa mardade
Só farta mais um pouquinho
Espere mais um tiquinho
Até eu ser enterrado
Prometo de coração
Que o que vivi nesse chão
Será comigo levado
Afina só resta eu
Do tempo veio passado
Todos da idade deu
Já foram aqui enterrado
Só me resta o casarão
Que me dar como visão
O conforto do passado
Quando lembro com alegria
As noite de poesia
E os verso improvisado
De anos são mais de oitenta
Vivido nessa fazenda
O sinhô só tem cinquenta
É certo que não entenda
Sei que o sinhô é herdeiro
Pois herdou todo dinheiro
Que o seu pai lhe deixou
Mas o que o meu peito traz
Pra mim vale muito mais
Do que o que o sinhô herdou
Essa casa meu patrão
Não é parede somente
Ela tem um coração
Que bate dento da gente
Tem passado construído
Que nunca será perdido
Pois mais de cem anos tem
E o coração que tem lá
Um dia só vai parar
Quando o meu parar também
Ao ouvir o meu pedido
O patrão chorando tava
Disse eu estava esquecido
E nem mais disso lembrava
Mais em homenagem aos vaqueiros
E a todos os violeiros
Que aqui cantaram bem
Juro pela minha vida
Que ela só será destruída
Quando eu morrer também
Essa casa meu vaqueiro
Vai ser símbolo do passado
Vai relembrar os seus janeiros
Fatos aqui registrados
Pois enquanto eu viver
A ela vou proteger
Mesmo que seja com a vida
Será símbolo do passado
E que eu seja castigado
Se um dia for esquecida.
José Amauri Clemente
Maio 2014
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