Seu moço eu tô espantado
Por
eu ver tanta mudança
Fico
inté aperreado
Chega
me dá umas ança
Vontade
de vomitá
Quando
eu oiço falar
Das
mudança do Nordeste
Pois
hoje tudo mudô
Parece
que num ficô
Nem
uma coisa que preste
O
Nordeste de hoje em dia
Não
é o que conheci
Não
tem mais tanta alegria
Que
no meu tempo vivi
As
festas tudo mudaro
E
diferente ficaro
Acabou-se
o que era bom
Inté
as musica tocada
Só
tem batuque e zuada
E
ritmo fora do tom
No
meu tempo companheiro
As
coisa era diferente
Mermo
fartando dinheiro
Todos
vivia contente
As
festa era de verdade
Não
havia farsidade
Pois
todo mundo brincava
As
brincadeira sadia
E
o povo com alegria
Nem
em mardade pensava
Onde
estão os violeiro
Que
no meu tempo cantava
Que
a tarde no terreiro
Com
os seus canto alegrava
Cadê
os rádio ligado?
Cadê
os cuscuz relado
Que
mamãe tanto fazia?
Sob
a luz do candinheiro
Quanto
acordava primeiro
Antes
de amanhecer o dia
No
meu tempo se fazia
Festa
junina animada
Tinha
forró e quadria
Pamonho,
mio e quaiada
Tinha
fogueira queimando
Traque
lá fora estralando
Com
os mínino correndo
Vendo
as brasa da fogueira
E
as menina brejeira
Assando
mio e comendo
No
meu tempo os filhos tinha
O
respeito pelos pais
Coisa
que na vida minha
Eu
morro e não vejo mais
As
moça só namorava
Quando
o pai delas deixava
Ou
então era escondido
Hoje
é tudo diferente
Abraça
e beija na frente
E
diz: esse é meu marido
Nas
dança de antigamente
Só
se dançava agarrado
Hoje
é tudo diferente
Tem
uns tal dum rebolado
Umas
danças sem sentido
Muié
troca de marido
Cuma
quem troca de ropa
Só
gosta dos preguiçoso
Estes
metido a manhoso
Que
fala com a língua tropa
Sinto
bastante sodade
Das
farinhadas que tinha
Poca
luminosidade
Com
o forno chei de farinha
As
maedoqueira sirria
Que
as madrugada se ia
Ligera
que nem o vento
Lembro
disso e fico triste
Por
que hoje só existe
Dentro
dos meus pensamento
Os
jove de hoje não sabe
O
que é uma quartinha
Dentro
da mente não cabe
As
coisas boa que tinha
Só
tem tempo pra bungá
Em
uns tá de celular
E
uns apareio nos uvido
As
coisas boa de outrora
Se
acabaro foro imbora
Foi
pelo tempo esquecido
As
pranta e os passarinho
Que
inspirava o sentimento
Não
existe um só tiquinho
Os
que tem tão no relento
Acabou-se
os animá
Não
tem peixe pra pescá
Os
rio tudo secaro
Os
vaqueiro e capataz
Acabou-se
não tem mais
Tudo
isso se acabaro
Cacimba,
pote de barro
Cristaleira
e armazém
Os
boi arrastando os carro
Já
percurei mas não tem
Rapadura
nem se vê
Doce
de côco, e cadê?
Nada
disso se conhece
Tudo
desapareceu
O
meu Nordeste esqueceu
Mas
comigo permanece
Passador,
mourão, cancela
Tramela,
esteio, peituri
Estribo,
cabestro e sela
Cimente
de uricurí
Briantina
e carrapicho
Corda
para amarrar bicho
Nada
disso aqui se vê
Meu
Nordeste se esqueceu
Com
o tempo esmoreceu
Ninguém
num quer mais sabê
Fogão
de lenha e pilão
Doce
de côco e beiju
Cuié
de pau, tramelão
Vei-
de- roda e caitatu
Forno
de fazer farinha
Som
de viola a tardinha
Que
os verso aqui cantava
Bacaiau,
peixe e pescada
Fogareu
de panelada
Com
banana verde e fava
Foice,
inchada e cavador
Chucalho,
rédia e cabresto
Cassuar
e passador
E
cipó de fazer cesto
Pra
os de hoje é novidade
Não
conhecem na cidade
A
língua do meu Sertão
As
palavras aqui escrita
Hoje
parece esquisita
Não
se conhece mais não
O
avanço seu dotô
É
bom por um lado sim
Mas
aqui tudo mudô
Por
outro lado é ruim
Pois
já tô veio e cansado
E
das coisas do passado
Só
na lembraça se ver
Só
vou deixar de lembrar
Das
coisas do meu lugar
Um
dia quando eu morrer
Autor:
José Amauri Clemente
20
de maio 2014