No
reino da poesia
Vi
muita história contada
Muitas
deixaram lições
Mesmo
de forma engraçada
Mais
nenhuma como esta
Que aqui
foi relatada.
Ao
leitor peço licença
Para
em versos escrever
A história
de Vicente,
E
assim vai perceber
Que
em nome do amor
Tudo
pode acontecer.
No
tempo que os coronéis,
Donos
de propriedade,
Exploravam
seus criados
Sem
nada de honestidade,
Existia
um fazendeiro
Por
nome José Trindade.
Zé Trindade
era o mais rico
Que
tinha na região,
Dono
de gado e de terra
Homem
de mal coração
Que
explorava os moradores
Sem
ter dó nem compaixão.
Entre
tantos moradores,
Vivia
José Vicente,
Vaqueiro
honesto e disposto,
Dos
deveres consciente,
Bruto
quando necessário,
Com
o gado paciente.
Cuidava
dos seus deveres,
Rapaz
fino e educado.
Exigindo
seus direitos
Sempre
cortês e honrado,
Que
embora ainda jovem
Era
muito respeitado.
Trabalhava
na fazenda
Desde
que era criança,
Cresceu
junto com o gado,
Nele
tinha confiança,
Puxou
ao seu velho pai,
Era
sua semelhança.
Tinha
dezessete anos,
Mas
perecia ter mais.
Sempre
esperto e cuidadoso,
Não
reclamava dos ais,
Apenas
falava sério
Quando
cobrado demais.
Mas Zé
Trindade, o patrão,
Nunca
foi de respeitar.
Era
homem muito rude,
Nunca
soube elogiar,
Era
arrogante e bruto,
Só
sabia reclamar.
Por
conta dessa atitude
Causava
medo e pavor,
Até
mesmo sua esposa
Lhe
chamava de senhor.
Explorava
quem podia,
Era
homem sem pudor.
E
mesmo sem ter motivo,
Não
confiava em Vicente.
Não
mandava ele embora
Por
ser vaqueiro valente,
Não
importava o perigo,
Estava
sempre na frente.
José
Trindade era o pai
De
uma menina bela,
Tinha
só dezesseis anos
Era
uma doce donzela,
Era
prometida a um rico
Mas
contra a vontade dela.
Veja
o caso, meu leitor,
A
grande perversidade.
Uma
menina casar
Ainda
ser ter idade
Sem
gostar do seu marido,
Não
tinha felicidade.
Mas
assim mandava a regra,
Era
o pai que escolhia,
Quando
completava idade,
O
carrasco, então, dizia:
- Você
vai casar com este!
E
logo marcava o dia.
Rosa
Maria era o nome
Da
filha do fazendeiro.
Vivia
no sofrimento,
Embora
tendo dinheiro
O
seu coração sofria,
Era
grande o desespero.
Voltando
para Vicente,
Pois
ele também sofria.
Por
sentir um grande amor
Por
sua Rosa Maria,
Alguém
que ele tanto amava,
Porém,
jamais a teria.
Seu
amor era guardado
E
com cuidado e segredo
Vicente
só confessava,
Não
porque tivesse medo,
Reclamava
suas dores
Debaixo
do arvoredo.
Era
lá que escrevia,
No
pé de jacarandá,
Todo
amor que sentia,
Sem
ter a quem confessar,
Toda
tarde estava ele
Os
versos a entoar.
Vicente
cantava assim:
“Rosa,
Rosa meu amor
Tu
nem sabes que eu te amo,
Como
é grande o meu amor,
Irás
te casar com outro,
Disso
eu já sou sabedor. ”
Na
árvore então escrevia
Frases
com o nome dela
Coisa
que ninguém sabia,
Nem
citava o nome dela,
Mas
deixava escrito lá
Seus
dizeres com cautela.
No
lugar do nome seu,
Criou
uma personagem
Seu
nome sempre escondeu
Porque
não tinha coragem,
De
revelar para ela,
Só
escrevia a mensagem.
Vicente
não poderia
Para
ela revelar,
Por
ser um simples vaqueiro
Ela
iria o desprezar,
Portanto,
o que lhe restava,
Era
só nela pensar.
O
leitor deve saber
Que
Rosa também sofria,
Por
que amava Vicente,
Porém,
seu pai não sabia,
Pois
se descobrisse isso,
Com
certeza lhe batia.
Por
isso ela escrevia
Em
um diário escondido,
Todos
os seus sentimentos
Pelo
amor proibido.
Guardava
como segredo
Para
não ser esquecido.
Dentro
do quarto de Rosa
Sem
contar para ninguém,
Ela
escrevia os segredos
De
carta já quase cem,
Nem
sonhava que Vicente
Amava
ela também.
Mas
não existe segredo
Que
não seja revelado.
Um
dia estava Vicente
Em
seu cavalo montado
Debaixo
do arvoredo
Onde
estava acostumado.
Lembrou-se
de sua amada
E um
verso recitou
Pensado
que estava só,
Mas
coitado, se enganou,
Trindade
desconfiado
Nesse
dia lhe marcou.
Disse
Vicente no verso:
“Rosa
minha, Rosa amada,
Se
soubesses que te quero
E
que por mim és amada,
Eu
fugiria contigo,
Ainda
essa madrugada. ”
Zé Trindade
ouviu o verso,
Porém,
nada comentou.
Ficou
só observando,
Viu
que ele desmontou,
E em
direção a árvore
Vicente,
então, caminhou
Tirou
o seu canivete
E
alguma coisa escreveu.
Sem
saber que Zé Trindade
Estava
nos passos seu,
Depois
Vicente saiu
Quando
uma frase escreveu.
Zé Trindade,
então, olhou
O
que Vicente escreveu.
Não
tinha o nome da filha
Mas
o verso era o seu,
No
lugar do nome dela,
Um
personagem escreveu.
Zé Trindade
teve ódio
Que
deixou transparecer,
Depois
que leu as mensagens
Quase
chegou a morrer,
E
foi direto à fazenda
Para
o caso resolver.
Chamou
logo por Vicente:
- Seu
moleque desgraçado!
Você
sente o que por Rosa?
Fale
e não fique calado!
Agora
eu já sei de tudo,
O
caso está revelado.
Vicente
não estremeceu,
E
disse assim: - Meu patrão,
Eu
amo Rosa Maria
Do
fundo do coração.
Estou
disposto a morrer
Pra
ganhar seu coração.
Mas
pode ficar tranquilo,
Não
precisa gritar tanto.
Eu
não tenho condições,
Pelo
menos por enquanto,
De
casar com sua filha,
Então,
por que o espanto?
- Seu
marginal descarado!
Como
ousa me afrontar?
Um
pé rapado sem nada,
Ousa
me desafiar.
Não
sei por que hoje mesmo
Eu
não mando te matar.
Era
só o que faltava.
É
uma infelicidade.
Um
vaqueiro pé rapado,
Querendo
ser um Trindade
Além
de pobre, um moleque,
Para
isso é sem idade.
Pode
arrumar suas malas
Se tiver
o que levar!
Nessa
fazenda que eu mando
Nas
terras desse lugar,
Se
eu encontrar com você,
Saiba
que vou te matar!
Em
toda essa região,
Se
eu souber que alguém te deu
Morada
ou mesmo comida,
Descumprindo
o ato meu
Mando
embora ou mato todos,
Aqui
quem manda sou eu!
Vicente
encarou trindade,
Com
coragem nem tremeu.
- Saiba
o senhor que sou novo,
Mas
não temo o grito seu,
Você
pode ter dinheiro,
Quem
tem coragem sou eu!
Escondi
até agora,
Mas
com coragem te digo,
Não
importa o que aconteça,
Enfrento
qualquer perigo,
Um
dia se ela quiser,
Vou levar
Rosa comigo.
Virou
as costas e saiu
E
nem para traz olhou.
Trindade
com tanto ódio,
Quase
não acreditou,
Foi
o único na fazenda
Que a
voz com ele alterou.
Vicente
andou alguns passos
E
disse assim: - Meu amigo,
Mesmo
que o tempo passe,
Mesmo
que eu sofra o castigo,
Volto
aqui nessa fazenda,
Vou
levar Rosa comigo!
Tão
cego Trindade estava
Que
em mais nada pensou.
Foi
procurar sua filha,
E a
ela perguntou:
- O
que sentes por Vicente?
Rosa
assim lhe respostou:
- Quem
é Vicente meu pai?
Esse
nome eu não conheço.
Por
que falas nesse tom?
Eu
acho que não mereço.
É um
novo morador?
Diga
qual seu endereço!
- Rosa
ouça o que te digo
E
faça tudo na vida.
Você
sabe que a outro,
Você
está prometida,
Se
eu descobrir traição,
Acabo
com tua vida!
- Fique
tranquilo papai,
Pois
já sabe quem sou eu.
Eu
sei do meu compromisso,
E sigo
o destino meu,
Irei
casar com o homem
Que
o senhor escolheu.
Porém,
saiba de uma coisa:
Eu
preciso lhe falar.
Eu
não amo homem algum,
Nem
mesmo o que vou casar,
Não
sei nem o nome dele,
Faço
o que senhor mandar.
Serei
pra sempre infeliz,
Por
casar com alguém estranho.
Não
entendo essa atitude,
Nem
um mal de tal tamanho.
Seu
interesse é somente,
Por
causa de todo ganho.
Trindade
então respondeu:
-
Prepare-se para casar
Mesmo
sem ter sentimento,
Você
aprende a gostar.
Foi
assim com sua mãe,
Eu
não pretendo mudar.
E já
tem data marcada,
Eu
esqueci de falar.
Vou
trazer seu noivo aqui
E
pode se preparar,
Falta
menos de um mês
Para
você se casar.
O
padre já está sabendo,
E os
convidados também.
Agora
você já sabe,
Por
mim está tudo bem,
Seu
noivo vai vir aqui
Já
na semana que vem
Virou
as costas e saiu
Como
fez José Vicente
Sem
se importar se a filha,
Achava
isso descente,
Rosa,
porém, tinha planos
Para
fazer diferente.
Mesmo
chorando a partida
Do
seu Vicente querido,
Chamou
logo a empregada,
E
lhe fez logo um pedido:
- Leve
isso aqui pra Vicente,
Antes
do caso perdido.
Pegou
todas as suas cartas
Que
pra Vicente escreveu:
- Procure
ele e entregue,
Diga
quem mandou fui eu,
Não
conte isso a ninguém,
É
segredo meu e seu.
A
empregada partiu
E
ainda encontrou Vicente
Na
saída da fazenda
E
disse muito contente:
- Mandaram
lhe entregar isso,
Fuja
imediatamente!
Nas
mãos de José Vicente
Foi entregue
escrito a mão,
Em
um pequeno baú,
Em
forma de coração,
Os
sentimentos de Rosa
Por
sua grande paixão.
Vicente
tinha um cavalo
Comprado
com seu dinheiro,
Foi
com ele que partiu
Daquelas
terras ligeiro,
Levava
apenas coragem,
Nenhum
pouco de dinheiro.
Com
dois dias de viagem
Quase
sem se alimentar,
Sentou-se
em um tronco seco
Pra
o cavalo descansar,
Abriu,
então, o baú,
E
começou a chorar.
Se
de raiva ou de amor,
Não
sei dizer no momento.
Cada
carta que ele lia,
Aumentava
o sentimento,
Por sua
Rosa Maria,
Ô
meu Deus, que sofrimento!
Nas
cartas Rosa contava
O
seu amor verdadeiro,
Dizia
ela: “Vicente,
Mesmo
eu tendo dinheiro,
Saiba
que apenas você,
É
meu amor verdadeiro.
Entre
as cartas que Vicente
Leu
sentado ali no chão,
Uma,
porém, lhe marcou,
Comoveu
o coração,
Vou
relatar ao leitor,
Preste
bastante atenção.
Dizia
Rosa a Vicente:
“Saiba
que vou me casar
Com
alguém que nunca amei,
Mas preciso
revelar,
Que
só amei a você,
E
sempre vou te esperar.
Mesmo
que passe cem anos
Sem
se quer te conhecer,
Pois
nunca tivemos juntos,
Mas
ouça que vou dizer,
Mesmo
que case com outro,
Nunca
vou te esquecer.
Estamos
muito distantes,
Só
porque tenho dinheiro,
Mas
nem todo ele compra,
A esse
amor verdadeiro,
Pois
enquanto eu existir,
Dele
sou prisioneiro.
Talvez
Vicente querido,
Você
nunca leia isso.
Mesmo
eu casando com outro,
Assumirei
compromisso,
Mas
meu amor por você,
Parece
que foi feitiço.
Sentado
naquele tronco,
Vicente
nem percebeu,
A
noite estava chegando,
E
então reconheceu,
Que
o coração de Maria,
Era também
todo seu.
Tomou
uma decisão
De
fazer o que poder,
Até
mesmo o impossível.
“Eu
quero ela também quer.
Um
dia Rosa Maria,
Vai
ser a minha mulher.”
No
verso da mesma carta,
José
Vicente escreveu.
Esperou
anoitecer
E o
plano, então, se deu,
Voltou
a noite à fazenda,
Veja
como aconteceu.
Andou
de novo dois dias
Com
a carta bem guardada,
Descansando
no caminho,
Foi
em busca da amada,
Entregou
a carta a ela,
As
duas da madruga.
Com
cuidado pra não ser
Visto
pelo guardião,
Vicente
entrou na fazenda,
Trazendo
a carta na mão,
Pela
janela do quarto,
Jogou
a carta no chão.
Rosa
Maria assustada
Pegou
a carta e abriu,
Vicente
pra não ser visto,
Virou
as costas e partiu,
Rosa
ainda viu o vulto
Olhou
o céu e sorriu.
Dizia
a mensagem escrita
Na
mesma folha dobrada:
“Voltarei
pra te buscar,
Não
esqueça minha amada,
Nem
que demore cem anos,
A
promessa está firmada.”
Maria
beijou a carta,
Guardou
com todo cuidado.
Aquela
seria a prova
Do
que disse seu amado,
Dentro
do coração dela
Ele
estava tatuado.
José
Trindade a seus planos
Vai
dar continuidade.
A
decisão que tomou
Com
orgulho e falsidade,
Irá
casar sua filha,
Contrariando
à vontade
Um
mês depois desse fato
Assinou
o documento,
Estava
agora casada,
Sem
ter nenhum sentimento,
Viu o
marido somente
No
dia do casamento.
Não
podia fazer nada,
Tinha
que honrar o marido,
Era
assim que a lei mandava,
Portanto,
era proibido,
Descumprir
a regra santa
Que
o padre havia pedido.
Seus
deveres de esposa
Rosa
cumpria direito,
Mas
o amor por Vicente
Não
saia do seu peito,
Acreditava
que um dia
O
caso teria jeito.
Rosa
Maria casada,
Zé Trindade
satisfeito,
Na
cabeça deste homem,
Um
casamento perfeito,
Tudo
estava caminhando
De
acordo com seu jeito.
Agora
volto a falar
Do
jovem José Vicente,
Partiu
pra outra cidade,
Um
lugar bem diferente,
Uma
decisão difícil
Que
não o deixou contente.
Vendeu
o cavalo seu
Por
alguns contos de réis,
Partiu
em busca de abrigo,
Trabalhar
pra coronéis,
Passou
muito tempo assim,
Com
muitos homens cruéis.
Cinco
anos se passaram,
Já
era homem formado
Nunca
esqueceu sua amada,
O
plano estava guardado
Cumprir
a sua promessa
Era
o dia mais sonhado
Sempre
honesto e cumpridor
Dos
deveres que lhe davam,
Todos
que lhe conheciam,
Nele
também confiavam,
Os
que com ele viviam,
Sempre
o elogiavam.
Até
que um belo dia
O
coronel Adelbrando,
Homem
rico e poderoso,
Viu
zé Vicente cuidando
Do
gado do seu vizinho
E
ficou observando.
Observou
que José
Era
muito cuidadoso,
Com
o gado do cercado,
Mesmo
bezerro manhoso,
Quando
necessário rude,
Com
os mansos carinhoso.
Convidou
para morar
Na
fazenda Riachão,
Lhe
pagando um bom salário,
Por
sua dedicação,
José
Vicente aceitou
E
foi morar com o patrão.
Era
muito diferente
Na
forma de ser tratado,
O
coronel Adelbrando,
Era
fino e educado,
José
Vicente ficou
Da
fazenda encarregado.
Nunca
mais teve notícia
De
sua Rosa querida,
Porém,
nunca lhe esqueceu,
Nem
um minuto na vida,
Nem
da carta que deixou
Na
hora da despedida.
Na
fazenda trabalhava
E
cumpria seu horário,
E
todo mês separava
Uma
parte do salário,
Tinha
planos pra o futuro
Esse
era o vocabulário.
Com
três anos ele já tinha
Guardado
um bom dinheiro,
Seu
patrão sabendo disso
Mandou
lhe chamar ligeiro,
E
disse eu tenho um bom plano
E
vou lhe contar primeiro.
Soube
que você já tem
Algumas
economias,
Sei
que já vem planejando
Isso
já faz alguns dias,
Comprar
a propriedade
Do
coronel Adonias.
José
Vicente falou:
- Meu
dinheiro ainda é pouco
Para
comprar a fazenda,
Não
posso entrar em sufoco,
Pra
comprar aquelas terras
Ou
tem dinheiro ou é louco.
- Vou
te propor um negócio,
Não
sei se vai aceitar.
Sei
que o dinheiro que tem
Não
dá pra você comprar,
Mas
eu te empresto o dinheiro
Sem
prazo para pagar.
- Como
assim? - Disse José -
Como
eu te pagarei?
- Trabalhando
para mim.
Esse
caso eu já pensei.
Vou
te fazer um favor,
Assim
eu te ajudarei.
As
terras de Adonias
São
boas pra produzir,
Tudo
que se planta dá
Você
já pode investir,
Essa
é a grande chance,
Você
não pode fugir.
Você
trabalha pra mim,
Vou
aos poucos descontando,
Um pouquinho
a cada mês,
A
gente vai conversando,
Nem
precisa alguém saber
Que
eu estou te ajudando.
Uma
parte do dinheiro
Sei
que você tem guardado,
Pois
já tem quase a metade,
E
ainda tem o seu gado
Que
é pouco mais eu sei
Que
é rebanho cuidado.
José
Vicente aceitou,
Fechou
negócio na hora,
Tava
tudo dando certo
E
ficou melhor agora,
Comprou
as terras e botou,
O
nome Fazenda Aurora.
Acredito
que o leitor
Deve
estar se perguntando,
Como
está Rosa Maria?
Como
ela está passando
Depois
de todo esse tempo
Pelo
amor esperando?
Cinco
anos a esperar
Pelo
homem que ainda ama,
Agora
com vinte e um,
É
uma senhora dama,
Vive
com o marido em casa,
Sonha
com outro na cama.
Às
vezes Rosa pensava:
- Será
que ele me esqueceu?
Das
cartas que escrevi,
Do
amor que prometeu,
Será
que o coração
De
José ainda é meu?
Da
mesma forma José
As
vezes se perguntava.
Será
que Rosa Maria
Ainda
nele pensava?
Confiante
na promessa
Por
Rosa ainda esperava.
Um
dia Rosa cansou
De
fingir para o marido,
Chamou
ele lhe contou
Do
seu amor proibido,
Revelou
que de José
Nunca
havia se esquecido.
O
marido então lhe disse:
- Eu
bem já sabia disso.
Cinco
anos esperou,
Sem
fugir do compromisso,
Esse
amor seu por José,
Está
parecendo feitiço.
Por
isso eu já decidi
Não
é certo esta ação,
Você
vivendo comigo,
Com
outro no coração,
Pensei
nisso muitas vezes
E
tomei a decisão.
Vou
embora dessa casa
Pois
já pude perceber
Amor
é um sentimento
Que
não podemos conter,
Viva
em paz com seu amado,
É
assim que tem que ser
Rosa
se surpreendeu
Com
a atitude do marido,
Por
entender seu amor,
Por
outro não prometido,
E
saber que de José
Ela
não tinha esquecido.
- Fique
em paz - Disse o marido.
Esse
é o teu sentimento.
Afinal
nós não podemos,
Controlar
o pensamento,
Nunca
senti teu amor,
Nem
mesmo por um momento.
Quando
o coronel Trindade
Ficou
sabendo do fato,
Que
o casamento acabou,
Não
aprovou este ato.
- Se
Rosa foi traidora,
Pode
acreditar que eu mato.
- Não
senhor, seu coronel
Esse
fato não se deu.
O
culpado dessa história
E tudo
que aconteceu,
Tô
deixando sua filha,
Mas
o culpado sou eu.
José
Trindade saiu
Com
um ódio desgraçado,
Este
acontecimento,
O
deixava envergonhado,
Sabia
que o casamento,
Já
estava terminado.
Foi
falar com sua filha
Bruto
e muito ignorante,
Pois
achava atrevimento,
E um
fato angustiante,
Rosa
deixar o marido
Por
conta de outro amante.
- Pois
fique você sabendo
Que
na família Trindade,
Não
tem gente desse jeito,
Isto
é fatalidade,
Você
traindo o marido,
Isso
é infelicidade.
Rosa
Maria, você
É a
desgraça da família!
Espero
que os descendentes
Nunca
sigam nessa trilha,
Saiba
que de hoje em diante
Você
não é minha filha.
Rosa,
então, lhe respondeu:
- Já
chega de sofrimento
Você
todos estes anos,
Zombou
dos meus sentimentos,
Sem
procurar nem saber
Qual
era o meu pensamento.
Saiba
o senhor, meu pai,
Mesmo
sem você querer,
Serei
sempre tua filha,
Mas
hoje vou te dizer
Daqui
pra frente eu resolvo
Só a
Deus obedecer.
Nem
sei se José Vicente
Ainda
lembra de mim,
Mas
saiba que meu destino
Ou
se Deus quiser assim,
Sei que
um dia o meu amado
Ainda
volta pra mim.
Vou
te contar um segredo,
Disso
o senhor não sabia,
Nem
pensou nos sentimentos
Que
todo o tempo eu vivia,
Vou
amar José Vicente,
Até
o meu último dia.
Assim
ele prometeu,
Eu
também lhe prometi,
Está
escrito nas cartas
Que
eu pra ele escrevi,
Também
em suas mensagens
Que
de José recebi.
Saiba
seu José Trindade
Que
toda sua riqueza,
Não
compra meus sentimentos,
Essa
é a sua fraqueza,
Vou
seguir meus pensamentos,
Disso
já tenho certeza.
Por
isso já procurei
Me separar
legalmente
Dei
entrada no divorcio
Isso
eu já tinha em mente
Pois
pretendo me casar
Na
igreja novamente
Pois
assim manda a Lei Santa
Disso
eu fui informada
Casamento
sem amor
Para
Deus não vale nada
Vou
me casar com o homem
Para
o qual fui preparada
José
trindade explodiu
E de
ódio estremeceu:
- Saiba
que de hoje em diante,
Tudo
aquilo que é meu,
Vou
vender e vou embora
Pois
nada daqui é seu.
Faz
de conta que morri,
Você
já não tem mais pai,
Fique
aqui ou vá embora,
Sei
que um dia você sai,
Encontrar
esse maldito
Sei
que um dia você vai.
Mas
saiba de uma coisa,
Se
eu encontrá-lo primeiro,
Acabo
com a vida dele,
E
vai ser o derradeiro
Dia
de José Vicente,
Mesmo
que eu gaste o dinheiro.
Vou
vender essa fazenda
E
todo gado que tenho,
Mas
mato esse desgraçado,
Pensando
isso já venho,
Pode
custar minha vida,
Mas
a palavra mantenho!
Ao leitor volto a falar
Do herói José Vicente,
Que dedicou seu esforço,
Mas tinha na sua mente,
Encontrar a sua amada
Viver com ela somente.
Bem pouco tempo depois
Conseguiu arrecadar,
O tanto que precisava
Para a fazenda pagar,
O que pegou emprestado
Logo conseguiu quitar.
Por ser homem cuidadoso,
Pôde ele prosperar,
Pelos seus investimentos,
Passou a negociar
Sonhando em voltar às terras
E com Rosa se casar.
Volto a falar ao leitor
Do rico José Trindade,
Deixou a sua fazenda
E foi morar na cidade,
Foi atitude tomada
Pra sua infelicidade.
Botou a fazenda à venda,
Começou a planejar,
Não mandou Rosa ir embora,
Pois resolveu esperar,
Pegar ela de surpresa
Depois de negociar.
Mandou um dos seus capangas
Fazer negociação,
Com quem viesse comprar
Era dele a decisão.
“Venda essa propriedade
Quero o dinheiro na mão. ”
Disse o valor da fazenda.
“Não quero saber a quem.
Venda terra, venda do gado,
E tudo que nela contem,
E se quiserem comprar
Venda Rosinha também.
Seguindo a ordem do chefe
Começou-se a propagar,
Que a fazenda estava a venda
Pra quem quisesse comprar,
Até que José Vicente
Ouviu do caso falar.
Pelo valor da fazenda
Muito tempo se passou,
Por ter preço muito alto,
Ele não negociou,
O ódio de Zé trindade
Cada vez mais aumentou.
Quatro anos se passaram,
José Trindade dizia:
- Eu só vou ter paz na vida
Voltar a ter alegria,
Quando eu ver José Vicente
Descer para a tumba fria.
Nunca mais foi à fazenda,
Aos poucos vendeu o gado,
Só sabia de notícias,
Quando alguém dava recado,
O capataz da fazenda
Era seu encarregado.
O ódio por Zé Vicente
Foi tudo que carregou,
Toda fortuna que tinha,
Com pouco tempo gastou,
Sem ter alguém que apoiasse
O ato que praticou
Até a sua mulher
Por não aguentar mais,
Toda sua ignorância,
E por sofrer tantos ais,
Deixou Trindade sozinho
E foi morar com seus pais.
Os avós Rosa Maria
Eram os dois abastados,
Tinham casas e fazendas,
Grande rebanho de gados,
Trindade ficou sozinho,
Com seu orgulho guardado.
Voltando a José Vicente
Sei que o leitor quer saber,
Quando soube que a fazenda
Estava para vender,
Disse: - Não importa o preço,
Ela vai me pertencer.
Sei que por regulamento
Maria tem seus direitos,
Mas pode ser que um dia,
Seu Trindade encontre um jeito,
Não vou dar motivo nunca
Dele me botar defeito.
Sou homem suficiente,
Nisso eu tenho confiança,
Compro as terras todinha,
De Rosa até a herança ,
Vou ter ela nos meus braços
É minha grande esperança.
Mandou um dos seus criados
Procurar José Trindade:
- Faça negócio com ele,
Lhe procure na cidade,
Não importa qual o preço,
Mas não lhe diga a verdade.
Ele não pode saber
Que o comprador sou eu,
Nem mesmo Rosa Maria,
Sabe do segredo meu,
O destino dessa vez,
Vai devolver o que é seu
Foi o criado falar
Com o coronel Trindade.
Vicente agora sabia
Que sua felicidade
Estava se aproximando,
Isso era realidade.
Quando o criado chegou
Trindade lhe deu apreço,
Depois de longa conversa,
Acertaram, então, preço:
- A fazenda está vendida,
Já sabe meu endereço.
Disse o criado a Trindade:
- Já prepare a papelada,
Daqui a duas semanas
A conversa está marcada
Eu lhe entrego seu dinheiro,
Aí não falta mais nada.
O preço foi muito alto,
Mas para José Vicente,
Não fazia diferença,
Pois ele estava contente,
Só restava agradecer
Ao Deus onipotente.
Pegou as economias
Que a muito vinha guardando,
Vendeu um gado que tinha
E saiu negociando,
Com menos de uma semana
Tava o dinheiro contando.
O leitor agora está
Pensando em Rosa Maria,
Já que ela não tem mais terras
Onde ela ficaria,
Trindade estava disposto
A fazer o que queria.
Pensava em seu coração:
“Agora vou me vingar,
Rosa não tem mais a casa
Não sei onde vai ficar,
Quero ver se dessa vez
Ela vai me procurar.
O dinheiro da fazenda
Gasto antes de morrer,
Rosa fica na miséria,
Agora ela vai sofrer,
Não deixo um conto pra ela,
Quero ver como vai ser.
Deixar todos na miséria
Era dele essa maldade
A mãe e Rosa Maria,
Meu Deus, que perversidade,
Como pode alguém assim
Não ter dó nem piedade?
Rosa então ficou sabendo
Que a fazenda foi vendida,
Não entrou em desespero
E nem ficou ofendida,
Sabia que com os avós
Ela estava protegida.
A fazenda foi vendida,
Porém, Rosa não sabia
Que Zé Vicente era o dono
E tudo lhe pertencia,
Seu sonho estava mais perto
Pediu a Deus todo dia.
No dia do pagamento
Zé Trindade recebeu,
Contou o dinheiro todo
E ao dono, então, lhe deu,
A escritura da terra,
Veja o que aconteceu.
Dentro do mesmo pacote
Numa carta escrita à mão,
Jose Vicente escreveu,
A grande revelação,
Quando Trindade viu isso
Quase para o coração.
Dizia o papel escrito
Ao senhor José Trindade:
“Lhe escrevo esta carta
Com muita felicidade,
Para que o senhor saiba
Da grande realidade.
Quem comprou sua fazenda
Agora vou lhe contar,
Foi aquele garotinho
Que o senhor jurou matar,
E que um dia prometeu
De com Rosa se casar.
Jose
Vicente sou eu,
Esta
é toda verdade.
A
terra que era sua
São
minha propriedade,
Vou
casar com sua filha
Pra nossa
felicidade.
Sei que ela me espera,
Eu espero ela também,
Antes de Rosa Maria,
Eu nunca amei mais ninguém,
Pois um amor como o nosso
Em outro casal não tem.
O mundo dá muitas voltas
E hoje vou lhe dizer,
Agora sou eu quem mando
Trate de me obedecer,
Saia da propriedade
Se não quiser mais me ver.
Antes do fim da leitura
Trindade estava tremendo,
Sem acreditar em nada
Do que estava acontecendo,
Agora estava pagando
Tudo que estava devendo.
Voltou para sua casa
Na cidade onde morava,
Não comia nem bebia
E o sono não chegava,
Olhando pra tudo aquilo
Quase não acreditava.
Uma semana depois
Soube mais uma verdade,
Disseram: - José Vicente
Tá vindo para a cidade,
Morar em sua fazenda
Que comprou de Zé Trindade.
Quando soube da notícia
E tudo que aconteceu,
Rosa quase desmaiou,
Sabia que o sonho seu,
Estava realizado
Por todo amor que lhe deu.
Sabia que cedo ou tarde
O seu grande amor iria
Cumprir o seu juramento
Que a ela fez um dia,
E esperava sonhando,
Oh meu Deus, quanta alegria!
Vicente
preparou tudo
Para
fazer a surpresa,
Visitar
Rosa Maria,
Botar
as cartas na mesa,
O
leitor está atento,
Disso
eu tenho certeza.
O
velho José Trindade
Ao
saber do acontecido,
Aumentou
mais o seu ódio,
Estava
doido varrido,
Pois
sabia que a batalha
Ha
muito tinha perdido.
Uma
noite sem dormir
Olhando
para o dinheiro,
Sozinho
dentro de casa,
Sob
a luz do candeeiro,
Com
tanto ódio no peito,
Se
viu num despenhadeiro
Juntou
tudo em um pacote
Era
o todo adquirido,
Pela
venda da fazenda,
Estava
doido varrido,
Botou
gás e tocou fogo
Estava
tudo perdido.
Pegou
a arma que tinha
Debaixo
do seu colchão,
Deu
um tiro no ouvido,
Quem
ouviu a explosão,
Foi
ver, mas já era tarde,
Não
tinha mais solução.
José
Trindade morreu,
Perdeu
tudo quanto tinha,
Famílias
terras e gado,
Naquela
vida mesquinha,
Foi
encontrado deitado,
Lá
no chão da camarinha.
Enterraram
Zé Trindade,
Ninguém
por ele chorou,
A
não ser Rosa Maria,
Que
a ele sempre honrou,
Mesmo
sendo ele ruim,
Sua
filha o perdoou.
Sei
que leitor deve está
Ansioso
pra saber,
Onde
está José Vicente,
O que
vai acontecer,
Calma
que volto a falar,
Espere,
você vai ver.
Dois
dias depois da morte,
Jose
Vicente escreveu
Uma
carta para Rosa,
E
assim aconteceu,
Mandou
entregar a ela
Que
sorrindo recebeu.
A
carta dizia assim:
- Rosa,
minha linda flor,
De
tudo que aconteceu
Estou
sendo sabedor,
Me
diga se ainda tens
Por
mim um sincero amor.
A
fazenda do teu pai
Comprei
com o dinheiro meu,
Só
vou tomar posse dela,
Pois
assim espero eu,
Se
você casar comigo
Como
um dia prometeu.
Muitos
anos se passaram,
Não
sei se lembras de mim,
Mas
a promessa que fiz,
Está
firme até o fim,
Me
responda minha amada,
Se
ainda gostas de mim.
Pois
tudo na minha vida,
Para
mim só tem proveito,
Se
eu poder dedicar,
Esse
amor que é perfeito,
Pra
sempre terei teu nome,
Guardado
dentro do peito.
Quando
Rosa recebeu
A
carta do seu amado,
Estremeceu
o seu peito,
Pois
estava confirmado,
Todo
amor que a Vicente
Ela
tinha dedicado.
Mandou
dizer a José:
“Sempre
te quis meu amado.
Tudo
que te prometi,
Tá
dentro de mim guardado,
Nunca
amei outra pessoa,
Mesmo
tendo me casado.
José
Vicente marcou
Pra
com Rosa se encontrar,
No
casarão da fazenda,
Pois
queria realizar,
O
sonho de tanto tempo
De
com Rosa se casar.
Logo
no dia seguinte
O
encontro foi marcado,
Ambos
estavam felizes,
O
sonho realizado,
Era
o dia mais bonito
Que
os dois haviam sonhado.
O
beijo daquela noite
Foi
o que mais esperou
Rosa
estava mui feliz,
Quando
o amado abraçou
Parecia
estar sonhando
Quase
não acreditou
No
terreiro da fazenda
Os
dois ali se beijaram
A
lua por testemunha,
De
tão felizes choraram
Por
esse momento juntos
Ambos
haviam sonhado
Dono
de todas as terras
Onde
um dia foi vaqueiro,
Agora
com sua amada
E
ainda com algum dinheiro,
Já
marcaram o casamento
Para
quinze de janeiro.
Foi
a festa mais bonita
Que
teve na região,
José
Vicente com Rosa,
Quanto
amor, quanta paixão,
Valeu
a pena esperar,
Confortava
o coração.
Casaram
na capelinha,
Na
fazenda construída,
Foi
a festa mais bonita
Que
já vi em minha vida,
Para
quem participou
Jamais
será esquecida.
Mandou,
então, construir
Uma
casa na fazenda,
Pra
viver com sua amada,
Sua
verdadeira prenda,
Deus
abençoou os dois,
Vivendo
da própria renda.
Rosa
Maria e Vicente
Viveram
muitos janeiros,
Tiveram
filhos e filhas
De
amores verdadeiros
Que
viveram em sua casa
Enquanto
eram solteiros.
Aqui
termino a história,
O
leitor bem pode ver,
Feche
os olhos, imagine,
A
cena que vou dizer,
Para
que um pouco dela
Também
possa reviver.
José
Vicente e Maria
São
hoje uma raridade,
Agora
já bem idosos,
Vivem
a realidade,
Sem ter
do que se culpar,
Pois
se amam de verdade.
Ao
leitor dou testemunho,
Pois
vivi essa história,
Hoje
com noventa anos,
Guardo
tudo na memória,
Vivo
com Rosa Maria
Lutando
e tendo vitória.
A vida é cheia de escolha
Mesmo com dificuldade,
A gente pode escolher,
Unir o bem à verdade,
Rir das coisas mais difíceis,
Ir atrás da liberdade.
x
Facto fictício