16 de mai. de 2017

OS TRÊS DESEJOS

AUTOR: JOSÉ AMAURI CLEMENTE

Eu um dia caminhava
Por uma praia sozinho
A beleza eu avistava
Sem ninguém no meu caminho
De repente eu tropecei
No objeto e olhei
Um candeeiro no chão
Me abaixei e peguei
E pra limpar esfreguei
O objeto na mão

Foi quando me apareceu
A fumaceira danada
Um mais alto do que eu
Gritando e dando risada
Dizendo olhando pra mim
Hô rapaz até que em fim
Você me apareceu
Me tirou desse apertado
Eu tava aqui sufocado
Sem saber quem me prendeu

Como agradecimento
Vou lhe atender três pedidos
Faço seu contentamento
Mesmo os casos mais perdidos
Peça mesmo o que quiser
Seja dinheiro, mulher
Casa ou apartamento
Que eu lhe dou de bom grado
O que for do seu agrado
Como agradecimento

Falei sem titubear
Pra ver se era verdade
Quero grana pra gastar
E matar minha vontade
O gênio estalou o dedo
Eu quase morri de medo
Quando vi aquele trem
Vinte vagões alinhados
Com os caixotes apilados
Tudo de nota de cem

Eu disse então, companheiro
Eu quero ficar bonito
Por que mesmo com dinheiro
Acho meu corpo esquisito
Faça uma cirurgia
Sem dor e sem agonia
Que eu quero mudar meu jeito
Quero ser de um jeito assim
Que quem venha olhar
Cace e não ache um defeito

Foi em questão de segundo
Eu vi meu rosto mudar
Senti um prazer profundo
Vendo meus braços engrossar
A feiura foi sumindo
Meu corpo ficando lindo
Que eu nem acreditei
Minha voz mudou o tom
Achei aquilo tão bom
Quase nem acreditei

Mas faltava outro pedido
Eu tinha que caprichar
Mesmo estando agradecido
Não podia dispensar
Me veio então na lembrança
Um desejo de criança
Que eu tive um dia na rua
E falei sem fazer greve
Quero que você me leve
Pra ver a terra da lua.

Ele ia bater palma
Eu disse: pode parar
Vá sem pressa, tenha calma
Deixe primeiro eu falar
Eu não quero ir voando
Quero ir é caminhado
E sem demora chegar
Quero vim de lá montado
Em um cavalo selado
Que eu via papai falar

Pra isso faça uma ponte
Que  vá da terra pra lua
Vá depressa, nem me conte
Qual é à vontade sua
Comece logo e ligeiro
Que eu vou guardar o dinheiro
Que é pra ninguém me roubar
E volto aqui pra saber
Pois antes do sol nascer
Amanhã quero estar lá

O gênio disse: Tá louco?
Pra que tanto desespero
Você ainda acha pouco
Eu te dar tanto dinheiro?
Como é que eu vou fazer
E me diga como erguer
Uma coluna pra lua?
Cadê o material?
Tu tá é passando mal
Sai daí, deixa da tua
  
Eu falei então se vire
O gênio aqui é você
Durma tarde, sonhe delire
Aprenda como fazer
Eu quero trabalho feito
Tudo firme sem defeito
E faça com tudo novo
E o tempo  tá correndo
Vou acabar te prendendo
Nessa garrafa de novo

Rapaz deixa eu te levar
Monte aqui nas minhas costas
Eu posso te carregar
Aceite a minha proposta
Eu disse está conversando
Eu quero mesmo ir andando
Se preciso eu levo alforje
Faça que eu tô apressado
Pois eu quero andar montado
No cavalo de São Jorge

Senhor tenha piedade
Não tem dinheiro que dê
Eu não tenho nem a metade
Do que dei para você
Falta o cimento e a brita
Pedreiro, cimento e fita
E metro para medir
Falta a colher de pedreiro
Acabou o meu dinheiro
Como é que eu vou conseguir?

Leve o resto do dinheiro
Que eu guardei na poupança
Deixe desse desespero
Isso é coisa de criança
Peça o que o senhor quiser
Até a minha mulher
Que a muito tempo não vejo
Invente que eu realizo
Rapaz pense crie juízo
Veja aí outro desejo

Tudo bem, eu vou mudar
Já que você tá pedindo
Escute o que eu vou falar
Fique esperto, tá me ouvindo?
Sim senhor, como quiser
Já fiquei até em pé
Pode falar de primeira
Qualquer coisa eu lhe atendo
Pois agora já estou vendo
Que qualquer outro é besteira


Quero que você me faça
Sem negar nem mudar planos
Na minha mente se passa
Isso já faz vinte anos
A Espera vai ter fim
Você vai fazer pra mim
Sei que pode e também quer
Vá logo e sem brincadeira
E mostre uma maneira
De entender minha mulher

Tão grande foi a surpresa
Que o gênio caiu pra trás
Tá falando de certeza
Ou tá brincando rapaz?
Tu acha que foi por quê?
Que pedi pra você
Ficar com minha senhora
Eu já penso isso a mais anos
Pode tirar dos seus planos
Era o que faltava agora!

Já que lhe devo um pedido
E preciso lhe pagar
Pra isso ser esquecido
Vamos logo conversar
O que você me pediu
Ninguém nunca conseguiu
Não era o que tu querias?
Me diga logo, me conte
Você quer que eu faça a ponte
Com uma ou com duas vias?

Nessa hora eu acordei
Com a mulher me chamando
Assustado levantei
Pra ela fiquei olhando
Pois se eu não fosse chamado
Eu tinha negociado
E sei que ele ia querer
Sei que ia levar canudo
Mas ia devolver tudo
Só pra ele me dizer


12 de mai. de 2017

TIPOS DE MÃE



Autor: José Amauri Clemente

Quando Deus teve a ideia
De criar o ser humano
Não precisou de plateia
Isso já era seu plano.
A mulher ele criou,
De dons lhe abençoou
Lhe dando beleza e brilho,
Mas de toda essa beleza
A mais bela com certeza
É o dom de gerar filho.

Mãe é completa demais,
Perfeita até quando erra,
Mesmo os filhos desiguais
Seja na paz ou na guerra,
Ela sempre tem um jeito,
Aquele gesto perfeito
Pra tudo tem solução,
Quando pode vai na calma
Se não pode esquenta a alma
E acaba a discussão.

Já vi mãe de todo jeito,
Tem aquela bem nervosa,
Quando ver algo mal feito
Não espera e nem quer prosa,
Vai logo na chinelada
No carinho ou na pancada
Joga o que tiver na mão,
Aí depois que pergunta,
Se tiver errado ajunta
Os filhos no cinturão

Tem aquela “acoviteira”
Que em tudo passa a mão,
Se o filho faz besteira
Ela diz: Se importe não!
Com o tempo você cresce,
Isso aí desaparece,
Tudo vai se resolver,
Deixa tudo como vai
Nem conte isso a seu pai
Nem precisa ele saber!

Tem a mãe atiradora
Que não erra quando atira,
Joga chinelo e vassoura
E duvido errar a mira.
Joga o que tiver na mão
Chinelo, colher, pilão
E o que poder pegar,
Gritou ela está alerta
E o pior que acerta
No canto que ela mirar.

De mãe coruja tá cheio,
O filho é sempre o mais lindo,
Todo mundo acha feio
Ela só olha sorrindo.
Pra ela não há defeito
Sempre bonito e perfeito
Seja Kaique ou Raimundo,
Menino “fei” da desgraça,
Ela diz quando lhe abraça:
És o mais lindo do mundo!

Tem a mãe perfeccionista
Quer ver tudo bem certinho,
Pensa que o filho é artista
Só quer tudo direitinho.
Diz: Deixa aí que eu conserto,
Por mais que ele faça certo
Ela diz: Está errado!
Sai daí, deixa eu fazer,
Quando é que tu vai crescer
Menino desmantelado?

E tem a mãe ciumenta
Em tudo ela tem cuidado,
Toda desculpa ela inventa
Pra ter o filho de lado.
Com quem foi? Com quem chegou?
Com quem você conversou?
Já comeu ou quer comer?
Fale tudo, seja urgente!
Quem te deu esse presente?
Diga que eu quero saber!

Quase todas profetizam
E quando diz acontece.
Alertam, falam e avisam,
O filho não obedece.
Quando diz: Vai tropeçar
Mal acaba de falar
Acontece de repente,
Se disser: Tenha cuidado,
Você vai ficar gripado,
O filho fica doente.

E tem a mãe enfermeira
Que sabe passar remédio,
Faz chá de qualquer besteira
More na roça ou no prédio.
Faz chá de casca de pau,
Bota soro, faz mingau,
Faz chá de tudo no mundo
Pra ver o filho dormir,
Só assim volta a sorrir
Sentindo um prazer profundo.

Porém a mais sofredora
Talvez seja mãe vigia,
Seu dom de mãe protetora
Lhe deixa grande agonia.
Quando o filho sai de casa
Seu coração fica em brasa
Não dorme nem se for morta,
Seus olhos voltam a ter brilho,
Quando escuta a mão do filho
Torcendo o trinco da porta.

Se aqui fosse relatar
Muitas rimas advêm
O tempo não iria dar
Palavras são mais de cem.
É pena que muitos filhos
Não valorizam os brilhos
Que da nossa mãe deriva
Quem perdeu vive a chorar
Quando deveria amar
Enquanto ela estava viva

Rima com mãe não achei
Não tem rima pra rimar,
Muitas vezes procurei
Mas não deu pra encontrar.
Isso prova que esse som
É único, perfeito e bom
E não perde pra ninguém,
Pois até Deus, Pai da luz
Quando nos mandou Jesus
Precisou de mãe também.

Não importa sua cor
Seu lugar de nascimento,
O que importa é seu valor
Seu riso e seu sentimento.
Toda mulher é perfeita,
Pois quando é mãe se endireita
Corrige os defeitos seus,
Perfeita até quando erra,
Toda mãe aqui na terra
É um pedacinho de Deus.

12 de maio de 2017