13 de jan. de 2021

JUVENAL PODELA

VENCEDOR DO PRÊMIO DIVERSIDADES LITERÁRIAS DE ALAGOAS 

CONCURSO LITERÁRIO 2020 - SECULT


Autor: José Amauri Clemente

No Nordeste Brasileiro

Nas terras do Piancó

Numa cidade pacata

No sitio pé do socó

Morava seu Juvenal

Homem de um filho só

 

Residia com a esposa

E esse filho somente

Que não puxou a seu pai

Que vivia descontente

Por que o filho aprontava

Por ser desobediente

 

Juvenal Junior era nome

Do garoto malcriado

Gritava com todo mundo

Valente e mal-educado

Aprontava em todo canto

Vivia desconfiado

 

Nada puxou a seu pai

Embora fosse criado

Com carinho pela avó

E de dengo rodeado

O povo já conhecia

Por Juvenal condenado

 

Assim Juvenal cresceu

Com a fama que pegou

Nunca deixou boa fama

Nos lugares que passou

Trapaceiro e mentiroso

Foi o cão que inventou

 

Até que um belo dia

Depois de tanto aprontar

Juvenal deu a noticia

Que ia se ausentar

Do lugar onde morava

Na cidade ia morar

 

Até mesmo o velho pai

Achou boa a decisão

Pois se Juvenal partisse

Acabava a confusão

E os entraves que causava

Por aquela região

 

Juvenal então partiu

Na capital foi morar

Passou uns dias bem longe

Mas começou a aprontar

Foi expulso de onde estava

Mudou para outro lugar

 

Assim Juvenal ficou

Sem lugar certo na vida

Andou procurando abrigo

Mas não encontrou guarida

Pensou então em voltar

Pra sua terra querida

 

Mas como viver na terra

Onde já tinha aprontado?

Feito arruaça à vontade

E ser desmoralizado

Tinha que inventar algo

Para que fosse aprovado

 

Juvenal adquiriu

Um terno bem alinhado

Um sapato social

Um tom diferenciado

Mudou o comportamento

Pra ver se era aprovado

 

Tinha ele o interesse

De aprontar novamente

Para isso precisava

Parecer ser diferente

Até encontrar a hora

De aprontar novamente

 

Chegou dizendo: meu povo

Eu estou arrependido

Passei esse tempo fora

Tenho fama de bandido

Mas a esse povo carente

Quero fazer um pedido

 

-Eu hoje estou convertido

Tô mudado pode crer

Me dê uma nova chance

Se confiar podem ver

Que aquele Juvenal

Não vai mais aparecer

 

A princípio todo povo

Não queria acreditar

Que aquele homem mal

Podia a vida mudar

Mais aos poucos Juvenal

Preparava-se pra aprontar

 

Foi ganhando a confiança

Enquanto o mal planejava

Uma fala diferente

A todo mundo ajudava

Em menos de quatro meses

O povo já acreditava

 

Porem estava na hora

Botou em ação seus planos

Disse: Vou ganhar dinheiro

Vou ficar rico em dois anos

Já ganhei a confiança

Esqueceram meus enganos

 

Resolveu então agir

Botar o plano em ação

Comprou um monte de livros

Deu uma de sabichão

Começou a consultar

O povo da região

 

Dizendo ser curandeiro

Foi adquirindo crença

Fazia chá de raízes

Pra curar qualquer doença

Ao povo da região

Já mostrava diferença

 

Não se sabe se por fé

Ou por pura ignorância

O povo lhe procurava

Ele com toda ganancia

Curava velho e menino

Rezava até à distancia

 

-Juvenal mudou demais

Chegava o povo a dizer

Agora é quase um profeta

Nem basta ver para crer

Milagres grandes demais

Juvenal pode fazer

 

 

Resolveu ir na cidade

Mandou fazer uns pacotes

Pintou com letras bonitas

Chegou alegre aos pinotes

Preparava a traição

Como Judas Iscariotes

 

Escreveu na embalagem

Bem grande o nome Pó-dela

Dizendo que esse remédio

Curava qualquer mazela

Desde frieira a piolho

Mal de rins ou de goela

 

Era um pó amarronzado

Parecido com café

Que misturava na água

Nem precisava ter fé

- Isso é coisa da ciência

Você sabe como é

 

Quando alguém lhe perguntava

Como era que fazia

Esse chã tão milagroso

Tão rápido ele respondia

- Foi uma revelação

Que vovô me deu um dia

 

- Mas eu não posso dizer

Se não perde a validade

É um segredo guardado

Com muita fidelidade

Essa receita não vende

Nas farmácias da cidade

 

O leitor já deve estar

Curioso pra saber

De onde vem o milagre

Pois agora eu vou dizer

De onde Juvenal tirava

O remédio pra vender

 

Por traz das casas do povo

Em um local reservado

Onde os moradores iam

Quando estavam apertados

Fazer as necessidades

Em um matagal cercado

 

 

Tinha uma pedra bem longa

Conhecida por lajeiro

Que quando o sol esquentava

Secava a bosta ligeiro

Juvenal viu uma forma

De ali ganhar dinheiro

 

Colhia numa sacola

E quando o cocô secava

Pisava bem pisadinha

Numa peneira sessava

Botava numa embalagem

E para casa levava

 

Misturava com umas ervas

E o fedor disfarçava

Dividia em sacolinhas

Adesivo colocava

Escrevia alguns dizeres

E para a feira levava

 

Por isso o nome: Pó-dela

Nome bem original

E quem tomava uma vez

Achava um cheirinho mal

Mas depois acostumava

E achava bem legal

 

Dizia na propaganda

Gritando no “mei” da feira

Que o seu medicamento

Não era de brincadeira

Fosse qual fosse a doença

Para ele era besteira

 

Tão conhecido ficou

Por aquela região

Que o povo lhe procurava

Pra qualquer situação

O Pó-dela era o remédio

Pra qualquer situação

 

Tentava ser cuidadoso

Trabalhava com cautela

Sem nunca se preocupar

De causar uma mazela

Por todos era conhecido

Como Juvenal Pó dela

 

 Mas como em todo lugar

Sempre tem um mais esperto

Chico Mota um certo dia

Quis ver tudo descoberto

Procurou então saber

E ver o caso de perto

 

Estava com mais de um ano

Que Juvenal já vendia

Esse bendito Pó-dela

E cada vez mais crescia

E todo dia os clientes

Na porta dele batia

 

Até o cheirinho de bosta

Tinha desaparecido

Tinha de todos gostos

Até um mais preferido

Que com cravo misturada

O fedor era esquecido

 

-Tem Pó-dela com aroma

De cravo, canela e cheiro

Tem Sabor suave e quente

Não precisa desespero

Venha curar suas dores

Gastando pouco dinheiro

 

Com falei ao leitor

Chico Mota resolveu

Levar ao laboratório

Veja o que aconteceu

Quando veio o resultado

Juvenal estremeceu

 

O Chico gritou na rua

Isso é uma má proposta

O que vocês estão tomando

É apenas chá de bosta

É difícil acreditar

Mas tem gente que ainda gosta

 

Quando o povo foi sabedor

Que estava sendo enganado

Juntou a turma todinha

No barulho desgraçado

Gritando pra Juvenal

Dessa vez tu estás lascado

 

 Procuraram o malfeitor

Foram até a sua casa

Uma multidão acesa

Quem nem ferro “chei” de brasa

Gritando: Seu desgraçado!

Dessa vez tu se atrasa

 

Amarraram Juvenal

Na frente do cagador

Fizeram uma misturada

Pra disfarçar o fedor

Botaram numa panela

Veja o caso meu leitor

 

Fizeram ele beber

Uns três litros do produto

E só não fizeram mais

Por causa de um menos bruto

Se não o pai do canalha

Ia ter que vestir luto

 

Os revoltados gritavam

- Olhe aí, você não gosta

Sinta como é gostoso

Comer pimenta com bosta

Agora tu vira gente

Posso fazer uma aposta

 

Tão grande foi o dilema

Que Juvenal já chorava

Chamando por todo santo

Prometendo que mudava

Quando mais ele chorava

Mais bosta o povo lhe dava

 

Depois de ser açoitado

Comer Pó-dela a vontade

Juvenal pagou bem caro

Por sua infelicidade

Nunca mais vai esquecer

Aquela fatalidade

 

Ao leitor deixo bem claro

Que não foi boa a ação

Pois não é justo fazer

Justiça com a própria mão

Juvenal foi infeliz

Agiu de má intenção

 

 Depois do caso passado

Juvenal se retirou

Fugiu daquele lugar

Nunca mais ali voltou

Não se teve mais noticia

Se realmente mudou

 

Uma coisa certa eu sei

E deixo claro ao leitor

Pois naquela região

Todo povo é sabedor

Nunca mais Juvenal passa

Por perto de um cagador.