VENCEDOR DO PRÊMIO DIVERSIDADES LITERÁRIAS DE ALAGOAS
CONCURSO LITERÁRIO 2020 - SECULT
Autor: José Amauri Clemente
No
Nordeste Brasileiro
Nas
terras do Piancó
Numa
cidade pacata
No
sitio pé do socó
Morava
seu Juvenal
Homem
de um filho só
Residia
com a esposa
E
esse filho somente
Que
não puxou a seu pai
Que
vivia descontente
Por
que o filho aprontava
Por
ser desobediente
Juvenal
Junior era nome
Do
garoto malcriado
Gritava
com todo mundo
Valente
e mal-educado
Aprontava
em todo canto
Vivia
desconfiado
Nada
puxou a seu pai
Embora
fosse criado
Com
carinho pela avó
E de
dengo rodeado
O
povo já conhecia
Por
Juvenal condenado
Assim
Juvenal cresceu
Com
a fama que pegou
Nunca
deixou boa fama
Nos
lugares que passou
Trapaceiro
e mentiroso
Foi
o cão que inventou
Até
que um belo dia
Depois
de tanto aprontar
Juvenal
deu a noticia
Que
ia se ausentar
Do
lugar onde morava
Na
cidade ia morar
Até
mesmo o velho pai
Achou
boa a decisão
Pois
se Juvenal partisse
Acabava
a confusão
E os
entraves que causava
Por
aquela região
Juvenal
então partiu
Na
capital foi morar
Passou
uns dias bem longe
Mas
começou a aprontar
Foi
expulso de onde estava
Mudou
para outro lugar
Assim
Juvenal ficou
Sem
lugar certo na vida
Andou
procurando abrigo
Mas
não encontrou guarida
Pensou
então em voltar
Pra
sua terra querida
Mas
como viver na terra
Onde
já tinha aprontado?
Feito
arruaça à vontade
E
ser desmoralizado
Tinha
que inventar algo
Para
que fosse aprovado
Juvenal
adquiriu
Um
terno bem alinhado
Um
sapato social
Um
tom diferenciado
Mudou
o comportamento
Pra
ver se era aprovado
Tinha
ele o interesse
De
aprontar novamente
Para
isso precisava
Parecer
ser diferente
Até
encontrar a hora
De
aprontar novamente
Chegou
dizendo: meu povo
Eu
estou arrependido
Passei
esse tempo fora
Tenho
fama de bandido
Mas
a esse povo carente
Quero
fazer um pedido
-Eu
hoje estou convertido
Tô
mudado pode crer
Me
dê uma nova chance
Se
confiar podem ver
Que
aquele Juvenal
Não
vai mais aparecer
A
princípio todo povo
Não
queria acreditar
Que
aquele homem mal
Podia
a vida mudar
Mais
aos poucos Juvenal
Preparava-se
pra aprontar
Foi ganhando a confiança
Enquanto
o mal planejava
Uma
fala diferente
A
todo mundo ajudava
Em
menos de quatro meses
O
povo já acreditava
Porem
estava na hora
Botou
em ação seus planos
Disse:
Vou ganhar dinheiro
Vou
ficar rico em dois anos
Já
ganhei a confiança
Esqueceram
meus enganos
Resolveu
então agir
Botar
o plano em ação
Comprou
um monte de livros
Deu
uma de sabichão
Começou
a consultar
O
povo da região
Dizendo
ser curandeiro
Foi
adquirindo crença
Fazia
chá de raízes
Pra
curar qualquer doença
Ao
povo da região
Já
mostrava diferença
Não
se sabe se por fé
Ou
por pura ignorância
O
povo lhe procurava
Ele
com toda ganancia
Curava
velho e menino
Rezava
até à distancia
-Juvenal
mudou demais
Chegava
o povo a dizer
Agora
é quase um profeta
Nem
basta ver para crer
Milagres
grandes demais
Juvenal
pode fazer
Resolveu
ir na cidade
Mandou
fazer uns pacotes
Pintou
com letras bonitas
Chegou
alegre aos pinotes
Preparava
a traição
Como
Judas Iscariotes
Escreveu na embalagem
Bem
grande o nome Pó-dela
Dizendo
que esse remédio
Curava
qualquer mazela
Desde
frieira a piolho
Mal
de rins ou de goela
Era
um pó amarronzado
Parecido
com café
Que
misturava na água
Nem
precisava ter fé
-
Isso é coisa da ciência
Você
sabe como é
Quando
alguém lhe perguntava
Como
era que fazia
Esse
chã tão milagroso
Tão
rápido ele respondia
- Foi
uma revelação
Que
vovô me deu um dia
- Mas
eu não posso dizer
Se
não perde a validade
É um
segredo guardado
Com
muita fidelidade
Essa
receita não vende
Nas
farmácias da cidade
O
leitor já deve estar
Curioso
pra saber
De
onde vem o milagre
Pois
agora eu vou dizer
De
onde Juvenal tirava
O
remédio pra vender
Por
traz das casas do povo
Em
um local reservado
Onde
os moradores iam
Quando
estavam apertados
Fazer
as necessidades
Em
um matagal cercado
Tinha
uma pedra bem longa
Conhecida
por lajeiro
Que
quando o sol esquentava
Secava
a bosta ligeiro
Juvenal
viu uma forma
De ali
ganhar dinheiro
Colhia
numa sacola
E quando
o cocô secava
Pisava
bem pisadinha
Numa
peneira sessava
Botava
numa embalagem
E
para casa levava
Misturava
com umas ervas
E o
fedor disfarçava
Dividia
em sacolinhas
Adesivo
colocava
Escrevia
alguns dizeres
E
para a feira levava
Por
isso o nome: Pó-dela
Nome
bem original
E quem
tomava uma vez
Achava
um cheirinho mal
Mas
depois acostumava
E
achava bem legal
Dizia
na propaganda
Gritando
no “mei” da feira
Que
o seu medicamento
Não
era de brincadeira
Fosse
qual fosse a doença
Para
ele era besteira
Tão
conhecido ficou
Por
aquela região
Que
o povo lhe procurava
Pra
qualquer situação
O
Pó-dela era o remédio
Pra
qualquer situação
Tentava
ser cuidadoso
Trabalhava
com cautela
Sem
nunca se preocupar
De
causar uma mazela
Por
todos era conhecido
Como
Juvenal Pó dela
Sempre
tem um mais esperto
Chico
Mota um certo dia
Quis
ver tudo descoberto
Procurou
então saber
E
ver o caso de perto
Estava
com mais de um ano
Que
Juvenal já vendia
Esse
bendito Pó-dela
E
cada vez mais crescia
E
todo dia os clientes
Na
porta dele batia
Até
o cheirinho de bosta
Tinha
desaparecido
Tinha
de todos gostos
Até
um mais preferido
Que
com cravo misturada
O
fedor era esquecido
-Tem
Pó-dela com aroma
De
cravo, canela e cheiro
Tem
Sabor suave e quente
Não
precisa desespero
Venha
curar suas dores
Gastando
pouco dinheiro
Com
falei ao leitor
Chico
Mota resolveu
Levar
ao laboratório
Veja
o que aconteceu
Quando
veio o resultado
Juvenal
estremeceu
O
Chico gritou na rua
Isso
é uma má proposta
O
que vocês estão tomando
É
apenas chá de bosta
É difícil
acreditar
Mas
tem gente que ainda gosta
Quando
o povo foi sabedor
Que
estava sendo enganado
Juntou
a turma todinha
No
barulho desgraçado
Gritando
pra Juvenal
Dessa
vez tu estás lascado
Foram
até a sua casa
Uma
multidão acesa
Quem
nem ferro “chei” de brasa
Gritando:
Seu desgraçado!
Dessa
vez tu se atrasa
Amarraram
Juvenal
Na
frente do cagador
Fizeram
uma misturada
Pra
disfarçar o fedor
Botaram
numa panela
Veja
o caso meu leitor
Fizeram
ele beber
Uns
três litros do produto
E só
não fizeram mais
Por
causa de um menos bruto
Se
não o pai do canalha
Ia
ter que vestir luto
Os
revoltados gritavam
-
Olhe aí, você não gosta
Sinta
como é gostoso
Comer
pimenta com bosta
Agora
tu vira gente
Posso
fazer uma aposta
Tão
grande foi o dilema
Que
Juvenal já chorava
Chamando
por todo santo
Prometendo
que mudava
Quando
mais ele chorava
Mais
bosta o povo lhe dava
Depois
de ser açoitado
Comer
Pó-dela a vontade
Juvenal
pagou bem caro
Por
sua infelicidade
Nunca
mais vai esquecer
Aquela
fatalidade
Ao
leitor deixo bem claro
Que
não foi boa a ação
Pois
não é justo fazer
Justiça
com a própria mão
Juvenal
foi infeliz
Agiu
de má intenção
Juvenal
se retirou
Fugiu
daquele lugar
Nunca
mais ali voltou
Não
se teve mais noticia
Se
realmente mudou
Uma
coisa certa eu sei
E
deixo claro ao leitor
Pois
naquela região
Todo
povo é sabedor
Nunca
mais Juvenal passa
Por
perto de um cagador.