Seu moço, eu sô um caboco
Pobre e sem instrução
Mermo passando sufoco
Muitas vezes precisão
Sem ter de ninguém ajuda
Sem parente que acuda
Quando o verão é puxado
Eu amo viver na roça
Gosto da minha paioça
E vivo aqui sossegado
As vez a chuva demora
Parece inté que num vem
Mas a vida lá de fora
Num tem o que a gente tem
Pois quem mora na cidade
Não tem seu moço, a metade
Das alegria dagente
Pois mermo sendo pouquinho
Divido com meu vizinho
E assim vivo contente
Os que moram na cidade
Por pouca coisa se zanga
Não tem a felicidade
De subir no pé de manga
Pegar a fruta madura
Isso é vida criatura!
E comer sem caburete
Jaca tirada do pé
Pra mim essa vida é
Mió que quaiquer banquete
Feijão de corda verdinho
Pra fazer feijão tropero
Leite com cuscuz cedinho
Carne de bode ou carneiro
Criado sem injeção
Desse que come ração
Prantada a beira do rio
Que tem água lamiada
Mais somente nas chuvada
Nos tempo do inverno frio
Seu dotô quem nunca viu
O só nascer de manhã
E também não assistiu
O cantar de uma cauã
Cantando de manhazinha
Parecendo a ladainha
Que eu via mamãe rezá
Não me diga que feliz
Quem não ouviu um concriz
E o cantar do sabiá
Quem nunca comeu do pé
A manga escorrendo o leite
Um cuscuzin com café
Não sabe o que é deleite
Quem nunca pegou a faca
Para partir uma jaca
Melando os dedo de liga
Limpar com gaz e sabão
Vida melhor num tem não
Se tiver moço me diga!
Comer fava com galinha
Criada sorta a vontade
Misturada com farinha
Isso não tem na cidade
Banana verde cozida
A melhor coisa da vida
Quem uma vez já provou
Morre e nunca mais esquece
Quem viveu isso merece
Passar o que já passou
Eu não troco o meu roçado
Pelas coisa da cidade
Prefiro ser isolado
Mais chei de felicidade
Mermo sem informação
Prefiro tirar do chão
O sustento pra comer
E mermo o maior do zome
Todo dia ele só come
Se o matuto lhe vender.