JOSÉ AMAURI CLEMENTE
Seu
dotor eu num sei ler
Por
isso vou lhe falar
É
pra o senhor escrever
O
que vou lhe relatar
Escreva
aí no papé
Prumode
a minha mulé
Não
me dar um prejuízo
Que
a gente vai separar
Pra
ela num me enganar
E
eu ter que sair liso
Em
trinta anos de casado
Trabaei
de fazer medo
Dormindo
tarde e cansado
Isso
nunca foi segredo
E
depois dos fio criado
Eu
vivo aqui revortado
Com
a minha companheira
Que
hoje quer me deixar
Pensando
que vou lhe dar
A
minha furtuna inteira
Anote
aí seu dotô
Que
eu vou começar dizer
Hoje
tenho seis tamburete
Duas
vassoura de sambê
Com
os cabo bem alinhado
Um
sapato invernizado
Por
que o outro se rasgô
Um
cinturão amarelado
Feito
de cordão trançado
De
um punho que se quebrou
Uma
rede ainda boa
Com
um buraquinho rasgado
Aguenta
duas pessoas
Se
não for muito pesado
Um
pote ainda meio d’àgua
Um
radim pra minhas mágua
Eu
esquecer escutando
Só
farta mesmo consertá
Mode
o danado tocá
Quando
eu tiver trabaiando
Não
esqueça de anotar
O
meu copo transparente
Que
serve pra eu tomar
Os
meus gole de aguardente
Meus
três tijolo batido
Que
tá no quarto escondido
Pra
fazer o meu fogão
Se
eu não tivesse guardado
Ela
já tinha levado
Ô
mulé sem coração!
A
minha cama só farta
Dez
vara pra terminar
A
esteira tá bem arta
Cumade
vai terminar
O
candeeiro tá furado
Mas
tá cum sabão tampado
Só
vaza quando tá cheio
Isso
pra mim não é drama
Por
que ele só derrama
Se
tiver pra lá de meio
A
cachorra tá doente
Só
pariu dez cachorrinho
Não
esqueça do meu pente
Que
só tem oito dentinho
Mas
serve pra pintiar
Quando
eu vou viajar
Um
dia a cada dez mês
A
camisa sem botão
A
bermuda e o calção
Que
paguei de doze vez
Um
cabo de cavador
Que
ganhei do marcinero
Um
pé de ventilador
Um
coro vei de pandeiro
O
cabo de uma viola
Um
vidro de botar cola
Que
me serve de caneco
Catoze
espiga de mio
E
um pedaço de fio
Que
é a tramela de um buteco
Minha
escova dessa vez
Nem
precisa anotar
De
dente eu só tenho três
Pra
que desgraça escovar
Todo
dia era uma briga
Por
que aquela bixiga
Queria
escovar primeiro
Como
os meus dente era mais
Ela
tinha seu rapaz
Que
fica pru derradeiro
A
peneira e o balaio
O
quengo de tirar sopa
Aquela
parte do gaio
Que
a gente pendura ropa
Pode
botar anotado
O
meu caçoar rasgado
Onde
os gato tão deitado
Pensa
que pertence a ela?
É
a cama da cadela
Não
pode ser retirado
Eu
só vou deixar pra ela
Pra
no dizer que sou rim
Um
filhote da cadela
E
um abano novim
Meu
fecho de lenha verde
E
pra não morrer de sede
Vou
abrir mão da quartinha
Só
tá com gogó quebrado
Mais
se bota com cuidado
Sustenta
a água todinha
E
por isso seu dotô
Eu
vou dá castigo a ela
Vou
retirar todo amor
Que
dei aquela cadela
Ela
vai ter que escolher
Se
vai comigo viver
Quero
ouvir isso primeiro
Quero
saber meu amigo
Se
ela vai viver comigo
Ou
com o fio do fazendeiro.
JOSÉ
AMAURI CLEMENTE
JANEIRO
2015