AUTOR: José Amauri Clemente
Não gosto de violência
Essa coisa me atrasa
Vivo em paz com a família
Sou chefe de minha casa
Mas tem coisa que acontece
Que mesmo o fraco enfurece
E o gelo vira brasa
De uns dias para cá
Começou aparecer
Um cantor em minha casa
Que veio pra me aborrecer
Cantou tanto todo dia
Que tirou minha alegria
Pensei até em morrer
Ele chegou sorrateiro
Não sei nem como ele entrou
Chegou sem bater na porta
Nem se quer pra mim olhou
Entrou sem cumprimentar
Meteu a boca a cantar
Entrou sem cumprimentar
Meteu a boca a cantar
E nem comigo falou
Eu fiquei desconfiado
A mulher “tava” gostando
Pois toda vez que eu falava
Dizia: Tá conversando!?
Deixa o bichinho cantar
Ele quer nos agradar
Escute o “bichim” cantando
Toda noite o miserável
Aparecia por lá
Aquilo me incomodava
E pra não dar bafafá
E pra não pegar má fama
Saia da minha cama
Ia dormir no sofá
E o pior é que ao sair
Deixava o quarto fechado
O cantor ficava lá
Com minha mulher trancado
Eu saia caladinho
E escutava bem baixinho
O cantar do desgraçado
Cantava a noite todinha
Pra minha mulher dormir
Eu pra não dar confusão
Nem pretendia assistir
E quando dele eu falava
A mulher desconversava
E começava a sorrir
Eu como sou paciente
Mas também tenho limite
Disse assim para a mulher
Eu vou lhe dar um palpite
Mande esse cantor parar
Se não eu vou acabar
Morrendo de um “estriquilique”
A minha mulher dizia
Pra que tanta ladainha?
Pois com o cantado dele
Eu durmo a noite todinha
Tu pára de reclamar
Se não quiser no deitar
Vá dormir lá cozinha
Ou então durma na cama
Tem lugar para nós três
Afinal não foi só hoje
Não já dormiu outra vez?
Com o tempo tu acha bom
Se enrole no edredom
Nós temos que ser Cortez
Seu cantar não me incomoda
Me faz até relaxar
É uma música suave
Chego até acompanhar
E logo pego no sono
E você no abandono
Só sabendo reclamar
Se tiver aperreado
Seja homem, mostre agora
Pegue o cantor que perturba
Der uma pisa e mande embora
Porem pra mim tanto faz
Eu quero viver em paz
Chega de tanta caipora!
Eu a mais de uma semana
Que no sono não pegava
Por causa do miserável
Que no meu quarto cantava
Mas nesse dia eu pensei
E o cantor esperei
Pra ver se tudo acabava
Nove horas mais ou menos
O miserável chegou
Com aquela gritaria
Abriu a boca e cantou
Ai eu perdi a calma
Sem valorizar a alma
Parti pra mostrar quem sou
Abri a porta do quarto
Com uma violência danada
Procurei vi logo ele
Com a boca escancarada
Aquilo no meu ouvido
Um barulho um estupido
Um barulho um estupido
Parecia palhaçada
Peguei a arma que tinha
E botei com mais de mil
Ele de mim se livrou
Mas no lençol se cobriu
Foi pra debaixo da cama
E para fugir do drama
E para fugir do drama
Da minha vista sumiu
Com medo ficou calado
Eu dizia: venha cá!
Dessa vez tu não escapa
Agora eu vou te matar
Hoje eu durmo em minha cama
Vou mostrar que tenho fama
Venha pra nós conversar
A mulher de lá gritava
Tenha calma! Tá demais!
Não machuque muito ele
Paciência meu rapaz
Ouça o que vou dizer
Cuidado pra não bater
E estraga-lo demais
Foi aí que acertei
Com minha arma na mão
Quebrei a costela dele
Que perfurou o pulmão
O fato saiu pra fora
Eu disse lascou-se agora
Acabou-se a confusão
Peguei ele joguei fora
Cansado já deu a trégua
Sacudi no meio da rua
E no mal passei a régua
E gritei que o pulmão encheu:
Aqui quem manda sou eu
Seu grilo “fi” de uma égua!