20 de ago. de 2010

POLÍTICOS NO PAIS DAS MARAVILHAS

Autor: José Amauri Clemente

Todos os direitos reservados

Quem já não ouviu falar do conto infantil Alice no país das maravilhas? Pois é, a fábula que há anos encanta crianças e adultos tornar-se realidade aqui no Brasil.

Estamos em ano eleitoral, e como sabemos, todos os candidatos são “bons”, “trabalhadores”, “honestos”, “hospitaleiros” e etc...etc... etc... Claro! Afinal de contas eles precisam de votos, muitos votos.

Como consegui-los? Promessas é uma fábrica de fazer votos, mas prometer o que? Afinal de contas o governo atual diz que no Brasil não falta trabalho. Esquece que o povo brasileiro não quer trabalho, quer emprego. E como dar trabalho conseguir emprego! Sabe-se que o verdadeiro político procura a necessidade do eleitor para assim poder ajudá-lo.

A natureza resolveu dar uma mãozinha e enviou para alguns estados do Nordeste uma chuva descomunal que acabou arrastando casas, terrenos, pontos comerciais e sonhos de muitos nordestinos. Se for verdade que São Pedro é o responsável pela chuva, acho que ele tornou-se cabo eleitoral de algum candidato, afinal de contas se os eleitores perderam tudo (embora nada tivessem a não ser a dignidade) esta é a oportunidade que os “lobos” esperavam para prometer casas, terrenos, empréstimos, sonhos e dignidade.

A catástrofe ocorrida no Nordeste tornou-se um prato cheio para os mal intencionados. Uma coisa é certa: Eles não vão mais oferecer trabalho, pois isso o nordestino já tem de sobra. Trabalho para arrastar a lama, trabalho para juntar os moveis, trabalho para enterrar as vitimas, trabalho para fazer Boletins de Ocorrência, trabalho para conseguir empréstimos em bancos, trabalho para receber cestas básicas e etc... etc... etc....

Como diz o titulo, o Brasil tornou-se mesmo o país das maravilhas, agora eles podem trabalhar toda campanha fazendo promessas.

Uma coisa eles precisam lembrar: O povo brasileiro não está mais vivendo de promessas. Aliás, nem São Pedro está acreditando em promessas de políticos, tanto é que há alguns anos trabalhava para os candidatos de Santa Catarina, depois de passar pelo Nordeste está fechando contrato com os políticos da China. O problema é que lá o sistema é diferente. Será que vai dar certo?

17 de ago. de 2010

DIÁRIO DO RIO MUNDAÚ


AUTOR: JOSE AMAURI CLEMENTE
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

PÁGINA 01
- Querido diário. Hoje é o dia 14 de julho de 1960, como já te falei, não estou bem. Aquele grupo de seres humanos que há alguns anos resolveu construir suas moradas em minhas margens, decidiu oficializar para sempre sua estadia em um lugar que a natureza prometeu ser somente meu. Não quero que você pense que não quero doar minhas águas pra eles, é que estou preocupado, eles não estão levando em conta que estão me ofendendo com os esgotos que deixam cair sobre mim. Sabe? Eu já ouvi falar de outros rios que foram completamente destruídos, Tenho medo que no futuro, em um momento de fúria perca o controle e destrua o que eles levaram tantos anos para construir. Eles chamam esse dia de Emancipação Política do Município. Tem muitas autoridades presentes, ouvi até alguns dizerem que daqui pra frente o lugar vai se tornar um paraíso. Espero que eles estejam certos.
PÁGINA 02
-Hoje é o dia 02 de maio de 1962. Ontem eu fiquei irado, tive que suportar água de mais de 10 dias de chuva. Todos os rios despejaram dentro de mim, fui obrigado a represar as águas do rio Mirim e derrubei algumas poucas casas que tinham às minhas margens. Ainda bem que a fúria foi passageira. Estou triste com tudo isso, mas não consigo me controlar. É algo inexplicável.
PÁGINA 03
Hoje é 15 de maio de 1977, mas uma vez devido às fortes chuvas fui obrigado a transbordar minhas águas. Não foi minha intensão, mas acontece que os humanos estenderam suas casas e propriedades às minhas margens! Muito próximo! Eu até  tentei avisar, dando sinais com troncos e folhas arrastadas, mas ninguém levou a serio. Fiz uma barulheira danada pra ver se o pessoal se conscientizava e saia das margens do rio, mas não adiantou. Tinha até meninos pulando da ponte me desafiando. Eu fiquei tão irritado com isso que acabei arrastando algumas casas e deixando muita gente desabrigado. Ninguém é de ferro né?! O pior de tudo é que quando as águas passam eu fico tranquilo. Não entendo esse meu jeito de ser.
PÁGINA 04
-Hoje é o dia 03 de abril de 1992, estou doente, muito doente. Às minhas margens estão criadouros de porcos, esgoto de matadouro, lixo em abundância e muitas casas. Estou dando sinal de transbordamento há dois dias, mas parece que ninguém se dar conta. O comercio da cidade invadiu meu lugar. Se novamente eu precisar represar as águas, não terei por onde passar.....Hoje é o dia 02 de junho de 1992, quinta feira são 7 horas da noite, acabei ter uma crise horrível, Não consegui me controlar e arrastei muitas casas. O comercio está completamente destruído, Matei duas pessoas, dizem que uma estava grávida. Invadi o mercado público e derrubei várias lojas. Foi horrível. Sinto-me culpado.
PÁGINA 05
- 18 de julho de 2010 foi o dia mais triste de minha vida. O dia em que perdi totalmente o controle e com muita fúria arrastei casas de velhos e novos amigos. Eu sei que todos me culpam pelo acontecido. Poucos, porém param para entender que não tenho culpa se seres humanos construíram suas moradas no caminho por onde eu sempre passei. As águas jogadas sobre mim foram muitas, até meu amigo Mirim que sempre foi tranqüilo se enfureceu quando represei suas águas. Foi horrível! Nunca fiquei tão agitado assim. Não lembro muita coisa, mas dizem que derrubei várias casas e prédios no comercio, inclusive um jovem foi soterrado, ou arrastado, sei lá... Sei apenas que a tragédia foi a maior que já causei. Eu sabia que não iria suportar muito. Há três dias os humanos estavam tão contentes, Fizeram uma grande festa para comemorar 50 anos de emancipação política. Eu fiz de tudo para não causar danos a eles. Não pude me controlar.
Não tenho coragem de pedir desculpas aos moradores. E o pior de tudo é que não vou poder devolver o que levei deles. Ouvi boatos de que a cidade vai se mudar para outro lugar. Dizem que vão armar umas barracas, mas estão todos com medo da minha fúria.
Espero que o lugar que eles venham escolher para fazer a nova cidade seja bem longe de qualquer perigo. Talvez um dia algum humano leia estas páginas e entenda minha situação. Eu quero ser amigo dos humanos, mas eles precisam colaborar comigo.

Relatado pelo Rio no perímetro do Município de Santana do Mundaú - Al, uma das cidades mais atingidas pelas enchentes do Rio Mundaú. Todos os direitos reservados.